Efeitos colaterais
Efeitos colaterais da primavera
O perfume da grama orvalhada.
A acerola prolífera, tanto as de flores brancas como as vermelhas.
A altura das couves, mais compridas que jogadoras de vôlei.
O caramanchão de chuchu.
O jirau de maracujá.
As jabuticabas, pérolas negras amontoadas em comício.
As frutas-do-conde, imitando um coração amarrotado.
Os tomatinhos redondinhos, aos milhares, tipo “oferta da casa”.
A salsinha arrepiada de prazer.
A cebolinha olhando de cima para as orquídeas.
As orquídeas de unhas e dentes agarradas ao xaxim
As rosinhas brancas, boas para tersol, micuim ou mau-olhado e até mesmo remela.
As hortênsias gordas.
As envergonhadas marias-sem-vergonha.
O renitente cipó-de-são-joão trepando em cima do muro.
O limoeiro Taiti de azedume insuspeito.
O jatobá cobrindo com sombra refrescante homens e andorinhas.
O miar da onça velhaca, atrás da perobeira.
O contador de causos fantasiado em suas estórias.
A cicatriz preservada.
A garrafa de vinho que se abre.
O jazz preferido que se ouve.
As mãos grandes para envolver pequeninas mãos femininas.
Os ombros largos para elas apoiarem a cabeça.
Os olhos semi cerrados que enxergam tudo.
Um pequeno estoque de lágrimas em caso de alguma necessidade.
O lindo céu azul, pintado de novo.
A mulher nua e o homem nu banhando-se no rio.
A ousadia de ficar ao lado dela.
A boca com gosto de beijo.
As esperanças em ramalhete.
O sonho que vence a vida.
O ventre generoso que se infla brotando o novo.
A vida que preenche o sonho.
Os dois que se fascinam.
As areias da praia, o velho barco, as longas pescarias.
A vida que brota e lenta explode
O mundo à disposição!