Um Outro Tema
Quem sabe abandone meus versos.
Eles me sangram.
Talvez procure um novo tema:
Um romance, um conto,
um assunto qualquer.
Algo que me traga alívio
nesses dias cinzentos.
Não sei bem o que.
Meus versos dispersos
não me abraçam,
não trazem de volta o meu amor
nem a lembrança dos amigos.
Se a ninguém agradar,
como posso reclamar
se saíram de mim?.
Como entender que versos
não se inventam, se constroem.
Não precisam de rimas, se arrumam.
Não se aprisionam, buscam o espaço.
Corro Perigo.
Quem sabe socorra-me
um “ciclo das oferendas”,
uma doação despretensiosa
em silenciosa manhã.
As vezes as palavras se escondem
nos becos dos mundos,
nos vales do medo,
nos ateliês abandonados,
no silêncio dos séculos.
Mas como desprezar os versos
em mim impregnados?.
Retirá-los seria rasgar
a própria carne
e foge de mim qualquer
instinto masoquista.
Sem os meus versos
a água não me sedenta,
o pão não me alimenta
e o sol não afugenta
a neblina do amanhecer.
Quem sabe melhor seria
guardá-los, emprestá-los
a um amigo qualquer,
que os devolvessem
na próxima primavera.