Sorrateiramente
Estava contando meus passos entre as gomas das lajotas e suas ondulações
E me lembrei daquela noite, o desespero ainda tocava lentamente meu rosto, senti a densidade da escuridão entrando como uma rajada fria em meu lobo frontal.
Entre as pequenas peças do tabuleiro pude recordar das tantas marchas, das tantas batalhas entrincheirado heroicamente onde fugia desesperado da luta dos bravos.
Procurei salgar minhas feridas, tentei cicatrizas minhas chagas atrás de algum subterfúgio.
Então, calai-me para amargura passar.
Quando ouvi os blasfemadores dizerem que quarenta anos se faz necessário para você brandir tua presença. Espontaneamente, naquele dia entre a multidão de pecadores, você se fez presente.
Sorrateiramente, percebi minha imagem refletida na auréola dos teus olhos. E não pude deixar de sorrir ao sentir sensação incomensurável daquele velho vento que há tempos não soprava.
Por essa razão, mantenho – me em pé, não quero mais perfilar nas filas dos caretas, nem definhar nos círculos dos derrotados.
Já cortei meus calcanhares, na esperança de reluzir tua efusão, tentando recolher os cacos de sanidade, que por você não me fiz enlouquecer dentro dessa catedral do silêncio.
Anderson Hazenfratz