LEMBRAM-ME DE TI!
LEMBRAM-ME DE TI.
(Écloga romântica)
O lilás aveludado das pétalas
Quais estrelas policromadas
Numa abóbada de céu e jardim
A inocência de uma criança
De sorriso inefável e imaculado
Encobrindo com meiguice
A travessura de um anjo.
A humildade de um pobre
De surrão vestido
É a bondade mal trajada
A nobreza em estado primitivo.
O farfalhar das folhagens
Em volúpias às bromélias
Em ritmo de brisa
Sob a mansidão do luar.
O silêncio da noite
Concubina do poeta
Exalando aromas
Da terra virgem e silvestre.
O ulular dos ventos
Acariciando as ramagens
Frescas e soltas
Em verdes frenesis.
A fragrância da terra
Evolando-se com a chuva
Lágrimas trânsfugas
Verticais e chorosas
Das nuvens solteironas.
O rubro crepúsculo
Uma apoteose do dia
Cerrando nas montanhas
O ato da criação.
A magnitude da aurora
Um ocaso, às avessas,
Ressurgindo o rei astro
Aos súditos da terra.
O frescor das manhãs
Sintomas de paraíso
Num perfume de rosas
Sedutoras sem juízo.
A solidão duma ilha
Cismando sozinha
Desterrada do mundo
Anátema dos mares.
A lua pélago brando.
De argente luz
Derramando serenidade
À inspiração que seduz.
O róseo dos anjos
Em concentração eterna
Translúcidos em linho
Bordados em cristal
De mãos no rosto a sonharem
Carinhas de bonecas
Em mesuras a contemplar
O cintilar das estrelas
Em Morse ao infinito
Modulando mensagens
Do mundo transcendental.
O bailado do arco-íris
Semilua em cores
Arco celeste se desfazendo
Em orvalho de confetes.
A terra vaidosa
Desfilando ao sol
Em longas evoluções
Rodopiando sobre si
Em eróticas convulsões
Bailarina solitária
Do espaço azul
Do meu planeta de ilusões.
Eráclito Alírio