Vento é vida, vida é vento

Vento,

que voa ao vento.

Vento que vai, vento que vem...

Vento que voa lento,

sobre vales e montanhas

Vento que voa à-toa,

vento que invade a proa,

que venta copas, e entranhas,

vento que transgride as cortinas,

vento que eriça os cabelos

vento que arrepia,

as saias plissadas das meninas,

vento que esquenta,

vento que resfria as esquinas.

Vento ciumento.

Vento que voa sobre os rios

e abre as janelas do convento...

Venta o que vês?

Não me contes:

Pode ser que inventes,

e isso, não lhe convém.

Vento que voa forte,

vento que vem do norte

a ventar as cortinas

das janelas de meu bem.

Vento, o que me contas

das correntes fortes,

vento só contes

aquilo que convém.

Não me venhas inventar

coisas sobre a morte,

isso não me fará bem.

Vente aos meus ouvidos

coisas que me soprem sorte.

Isso lhe cairá muito bem.

Vou espalhar por aí,

assim com tu,

coisas boas que me

ventilaste sobre a vida,

essa é a ventania comprida,

que a todos, muito interessa.

Vente logo, ou invente:

nisso, tenhas pressa.

Ventile com vigor

nas vidas, nas mentes

ávidas de paz,

carentes de amor.

Vente assim,

mas vente também pra mim,

seja lá como for...

Vento que vem de longe,

que sopraste as orelhas

da gente que mora detrás dos montes.

Vem cá, venha soprar as novidades.

Me contes o que cochicham

as moças da cidade.

Devolva-me, se possível, as coisas

que perdi.

Me sopre aos ouvidos

segredos despercebidos

que na pressa da juventude,

esqueci de ouvir.

Sopre fundo em minha alma,

agora que tenho menos tempo,

porém, tenho calma

de ventar um pouco em mim.

Venha vento, venha lento,

sopre tudo para mim.

Se quiseres, use um canudo,

para que o vento entre miúdo.

Hoje estou meio faminto,

de saber só um pouco,

não preciso saber de tudo.

Antes, eu tinha bem mais tempo,

e me perdia nas coisas do mundo,

e nem percebia que o vento,

essa belo elemento,

poderia trazer-me tanto

alento.

Vento é vida,

vida é vento...!