O TREM D'ÁGUA

(SAUDADES...)

Rosa Regis



Saudade do trem...
Piuí... piuí...
Com a máquina negra
à carvão
Café-com-pão... café-com-pão...
Trazendo a água nossa
de-cada-dia
do Rio do Piquirí.

- Corre menino!...
- Pega o latão, o pote, o galão...
A fila está se estirando...
A garotada chegando numa algazarra danada
O grito da molecada...
O empurra-empurra na fila...

- Ei!... Chiquinho de Dona Dalila tomou a frente!!
- Sai daí furão!

- Eita!... Rosinha esborrachou-se no chão.
- Cá, cá, cá, cá, cá...
- Levanta mulé! Tu perde tua vei!
- Adispôs tu bota um imprasto no juei!

- Enche a minha premêro, seu Adão!

E era aquela festança na Estação:
Davinha, Luzia, Francisco, João,...
E Rosinha no meio!
Já esquecera o machucado no joelho.
O que vale mesmo
é que conseguira encher suas duas latas!

Está suprida por dois dias,
ela e a sua família.

Agora,
é esperar a água do gasto na lagoa
que se transformou em torrão e virou campo de futebol,
junto com as colegas.

Viram a noite no "cacimbão",
que é o olheiro que faz brotar a lagoa no inverno,
quando tem chuva!
Pois nem sempre chove.

...Mas... choveu!
Teve um ano bom de inverno que encheu a lagoa!

Encheu e nunca mais secou.

E um ano, não sei bem quando,
cresceu... inchou...
invadiu as casas
e seus moradores expulsou.

Foi um verdadeiro "Deus nos acuda"!
Veio até ajuda do Governador.

Hoje... só a saudade ficou.



Natal/RN-Brasil - 25/11/2006.
Rosa Regis
Enviado por Rosa Regis em 30/11/2006
Reeditado em 18/11/2015
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