FESTA CAIPIRA

A menina caprichava no vestido

Todo de chita e de rendas

Era bem rodado e comprido

Mais parecia uma prenda...

O menino de calça curta

Camisa xadrez enfeitada...

Chapéu de palha e bigodão

Botina de elástico rasgada!

E na hora da esperada quadrilha,

Tirou a menina para dançar

Mas um outro também queria

Com a linda prenda ficar...

Para não haver briga

E evitar tanta confusão

A prenda inteligente

Elegeu um terceiro peão!

Só restou aos dois meninos

Convidarem outras prendas

Que felizes foram para o salão

Com seus vestidos de renda...

Depois que a dança acabou

Entre pipocas e quentão

O menino mandou uma mensagem

Escrita com muita emoção...

Mandava a ela um beijo

E um pequeno poema

Num estilo sertanejo

Tendo o amor como tema...

Dizia ele assim:

"Flor da minha vida

Quero agradecer

Pela luz do dia

Que te viu nascer!"

E a prenda ficou encantada

Por ele ternamente se apaixonou

E somente com aquele peãozinho

Toda a noite rodopiou!

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AGRADEÇO A BEM HUMORADA INTERAÇÃO

DO POETA E AMIGO

CHRISTIANO NUNES

CASAMENTO DO CAIPIRA

Mas esse peãozinho

Rodopiô inté o sór raiá

Foi uma linda festa

Que houve pra cá...

E elis si divirtiro munto

Nesse dia de Sum João

Pipoca e batata doce

E num fartô o tar pinhão

No casamento dos caipiras

Demo muita risada

A prigunta do vigário

Fôro por mais engraçado:

Ele priguntô se ela fazia gosto

Em casá caquele peão

A resposta foi simprinha

Que era du coração....

Antes de terminá

E o padre dizê amém

Disse que si a mãe quiria o tar casório

Ela quiria tamém...

Êta festa boa...Parabéns pelo belíssimo poema.

Um aperto di mão, prucê, cumadi Adria!

Abraçu prucê tumém,Cumpadi Christiano!

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Este conto está na sala da nossa colega recantista

Maria Mineira, é tão interessante que pedi à ela para

que me deixasse publicá-lo aqui junto do meu poema.

O CASAMENTO DE CLEMENTINA E ANTÔNIO

MARIA MINEIRA

A quem nunca esteve ao tento dos idos e paragens onde são descritos nossos contos, pode parecer incongruente que um pai, principalmente quando já de dez viagens, que era o preciso caso de Seo João Clemente, queira desfazer-se das filhas mulheres o mais breve possível pra jogar a incumbência do sustento ao marido arranjado. Mas eram coisas das necessidades e dos costumes daquele tempo e Seo João depois de muito pra lá e pra cá, chegou um dia em casa avisando à filha:

—Crimintina, minha fia, ieu já arrumei marido procê: É um rapaiz bem pobrim, mais é bão moço e trabaiadô.

A menina, “nem feia de espantar e nem bonita de admirar”, como promoveu o pai, nem gostou e tampouco desgostou sentada no banco da sala de mãos cruzadas entre os joelhos, com o pai de pé a sua frente, olhava o assoalho bem varrido da sala. Naquele final de tarde um passarinho cantou lá fora, parecia explicar que coisas do mundo eram mesmo daquele jeito, consentiu. Imaginando a vida que viria...

Clementina do Seo João Clemente e Antonio do Chico Cunha só se viram pouco antes do casório, que foi simples, sem as pompas que cá imaginaríamos, mas com todas as vias de fato para tornar-se sacramentado. Foram lá, a cavalo, ela bem bonita de vestido branco, flor de laranjeiras. Ele de terno riscado, a mesma roupa que o pai usara quando se casou. A comitiva ia junto, um pouco de gente a pé, um pouco de gente montada, revezando... E os mais bem de vida de carroça. Já voltavam, quando Seo João Clemente registrou alguém daquele meio de gente e se achegou ali mesmo dum rapaz apontando idade pra Adelina, a mais nova que ficava.

A casinha dos dois foi feita ali perto donde ela vivia com a família. De pau- a- pique e chão batido, com uma bica d’água ao lado, era aí que Clementina tanto era vista, cumprindo sua lida nesse mundo. Mas Antônio, nos primeiros dias de homem de respeito que agora era, mostrava, no indo e vindo do dia, que já andava meio desacoroçoado do casório.

De chapéu no peito, com todo o respeito que existia nessa vida, tava ele na frente da casa de Seo João Clemente, querendo conversar conversa séria. O sogro, ardido do sol de lascar daquele dia, deu uma coçada preocupada no queixo barbado, mandou todo mundo sair dali que queria “proziá” conversa de homem com o genro, e mandou-o sentar-se à mesa sem, claro, oferecer um “tiquim” de nada, enquanto untava seu estômago com tutu de feijão e torresmo. Antonio, quase com uma cara de bravo, na hora do “vamo vê”, se pôs meio ressabiado na frente do sogro.

— Pó falá u qui te traiz aqui Antonho... – Bradou Seo João com o garfo em punho enquanto Antonio só se acanhava mirando o poente pela janela lá na serra.

—Cê num ta satisfeito cum tempero da cumida qui a tua muié tá fazeno?

—Num sinhô, ela faz um cumê bão dimais da conta! – Respondeu Antonio falando a primeira alguma coisa.

—Ela num cuida bem da casa?

—Num sinhô, a casa ta limpa qui dá gosto! Ela arruma tudo direitim, as panela tá tudo briano im riba do fugão.

— A minha fia num tá cuidano bem da tua rôpa, é issu?

— Num sinhô, nunca visti rôpa tão limpinha assim, ela inté sabi custurá.

— Ah Antonho, ô num sei o qui tá te contrariano, oia qui ieu num sô adivinhu, ô ocê disimbucha logo, ô ocê vai simbora, co num criei fia pra tê recramação adespois di casada.

Uniu-se a irritação dum com a vergonha e medo doutro, fez-se um silêncio penitente entre os dois, até que Antônio arrancou do regaço da alma uma força pra dizer...

—Ô sô Juão.

— Fala homi de Deus!

— Sab quié?

— Ieu num sei não, uai, ocê inda num falô!

— É qui...

—Fala pelarmordedeus, qu’eu já tô aguniado!

— É qui... Ela num qué...

— Ela num qué?

— É Sô Juão, ela num qué...

— Ela num qué u quê?

— Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh! É issu???

— É... Ela fogi dieu, num qué fazê us trem cumigo!

Desprendeu-se a coragem de Antônio e seguiu-se a resposta histórica de Seo João Clemente:

— MARRA A CRIMINTINA NA CAMA E COM' ELA SÔ PAMONHA! IEU TIVE QUI FAZÊ ISSO CÁ MÃE DELA!

Anos depois, as más línguas, ainda diziam que se ouvia muito na roça onde os dois trabalhavam a Clementina sussurrando meio acanhada:

— Ô Antonho...Ocê vai querê marrá ieu hoje de noite?

O casal teve oito filhos e comemoraram juntos as bodas de ouro. Na cabeceira da cama deles nunca deixou de haver uma corda, o porquê nunca se soube, é um segredo, guardado ali, nas vidas daquelas pessoas que o tempo já vai esquecendo que existiram sobre a terra, num quarto duma casinha que dizem que ainda existe, bem lá no meio do fantástico sertão mineiro.

Abraços, Maria!

Adria Comparini
Enviado por Adria Comparini em 09/06/2011
Reeditado em 11/06/2011
Código do texto: T3025052
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