Recrudescente
Algo recrudesceu em mim:
O silêncio.
Um silêncio de séculos,
oculto entre as sombras
que margeiam os vales
dos medos.
Hora do silêncio.
Sons reclusos
abrigados na mente.
Sem guerras e sem sonhos,
dispersos no mundo.
Recluso, não vejo as horas,
não ouço os clamores,
não reclamo os amores
vencidos e os dias mortos.
Em silêncio não leio
um poema qualquer.
Versos que nada revelam.
Divido a alma em duas partes:
uma fica comigo
a outra guardo em silêncio.
Quem sabe quando
um novo sol surgir,
uma nova primavera,
um quase silêncio
faça meu grito brotar.
Hoje não.
Recrudesceu o silêncio.