Reminiscências

Menino fui. Sem festas.

Nos meus quinze anos

não houve festa.

Não sei porque não se

festeja os quinze anos

de meninos.

Joguei bola-de-gude, pião.

Brinquei de “casinha”,

“papa-mamãe”,” médico”.

Na mais pura inocência

ou na mais delimitada malícia.

Nos fins de semana,

a “pelada” no campinho,

o namoro no coreto da praça.

Namorei todas as “gatas” da cidade.

Algumas, quando sabiam do namoro,

terminavam.

Aos sábados a matinê.

Filmes de faroeste.

Nem se fazem mais.

Dias de chuva. Banho na chuva.

Mergulhos no barreiro,

onde saia esbranquiçado.

Minha mãe se descabelava.

Dos amigos, a lembrança.

Não foram muitos.

A banda marcial do colégio

a varar a noite com seus dobrados

enquanto o sibilante vento frio

me cortava a carne.

Construí meus primeiro versos.

A poesia já corria timidamente

pelas minhas veias

onde as imagens se formavam,

as sensações transpiravam,

e as mutações da puberdade

assustavam em constante desafio.

Cacei passarinhos.

Matei alguns.

Não por perversidade.

Catei umbus, castanholas.

Não por necessidade.

Menino fui.

Hoje menino não quer ser

mais menino.

Não sei o porque.

Foi tão bom ser menino.

Mas o tempo se foi.

E eu não quero ser o

“Peter Pan” dos tempos modernos.

Hoje tenho quer assumir

o homem que me tornei.

Mas ainda preservo

o que precisa ser guardado

do menino que fui.

Publicado no livro "Horas Verdes" - 2009.