FLOR DA IMAGINAÇÃO
Letras mortas povoam
minhas lembranças
penas pelo chão
ossos
estrumes
cacimbas secas
marcas de alpargatas
são letras e estão mortas
como rascunhos
papéis amassados pelo
tempo
tempo infindo
lembrança infinita
sol posto
chuvas escassas
aridez na alma do papel
alma da alma
essência gasta
pelas sombras do espaço
pelas sobras no pasto
mata-pasto
extrato sólido da memória:
uma chuva fina
uma flor única
(filha do espelho)
no hospital das horas
a seca quebrou os galhos
vista pouca
deixou um fio de voz
a carne sem volúpia
lentes e letras no pó
da terra
sem chuva
viva a imaginação
(viagem lúdica)
havia sombra e água fresca
e uma flor, outrora murcha
despertou do pó da terra
entranhas férteis
pétalas em cor e cheiro
e aconchego de beija-flor.