Pandorga
Crueldade!... Linha lhe sobra, e suspiro...
Cabeceia a pandorga qual ginete fogoso
Ao cabresto, instada sempre a restrito giro,
Órfã da penúria e do conquistar custoso.
No olhar do menino sorriem as cores,
Que ao sol, em brilho de contas reluz.
No olhar do menino fantasmas raptores
No disfarce do vento que a pipa conduz
A roxa pandorga contida reteve saudade!
Revestida da mordaz crueza que não finda,
Firma a suspeita que de lá da tenra idade
Anacrônico mastro o menino ainda guinda.
Nostálgico, o olhar infante veste a realidade
Em esmaecidas cores de cintilar purpurino,
E nela o quanto almeja ainda a liberdade
Da pipa, agora desbotada, o ignoto menino.
(re-edição-republicação)