Santo Antônio de Lisboa (r)
Na minha Aldeia o sol nascia tarde
Porque tarde se despedia
Engolido pelas águas da travessia
Ao derredor das pedras desgarradas
Sobre a areia fina e macia da praia
O encontro das águas mornas com meus pés descalços.
Banhados pelo sol abrasador
Os sombreiros despiam-se de suas vestes
Lançando suas largas folhas
Ora sobre as terras de Santo Antônio
Ora sobre as águas da maré alta.
Ao meio-dia as marolas chegavam à Lisboa
E o silêncio tornava-se um canto
Os pássaros se agrupavam aos bandos
A natureza se deleitava e as horas, bocejando
Perdiam-se na contagem do tempo.
O homem descansa em fuga de um mundo ágil e moderno
Em busca de espaço e vida cada vez mais, harmoniosamente com a natureza
Porque ao libertar-se do cotidiano, sua consciência e seus sentimentos
Afloram procurando o equilíbrio entre a alma e o espírito.
O vento nordeste preguiçosamente nos empurra para a tarde
E com ela a rotina.
Nesta luta, os meios são a labuta diária e as idéias para sobreviver
Dos mariscos (nas gaiolas) aos peixes (nas redes), o Homem aprisiona o alimento.
Da água e sal vem o sustento para uma vida mais doce desfrutar.
Quando o sol se põe em Santo Antônio de Lisboa
Temos a impressão que uma vida inteira ali se realizou em um só dia
Deslumbrados pela aquarela das cores que nos encantou e criou essa magia
A noite se aproxima para deixar tudo igual ante nossos olhos, do mar infinitamente azul
Ao verde das matas, sem emendas ou rasuras.
Deus criou esta obra-prima e nada esqueceu
Apagam-se as luzes do cenário
Mas os entes da natureza sempre contracenam
A lua chega e cheia de brilho prateado
Esparrama-se sobre o mar em espelho d'água
E na penumbra dos sonhos Tudo percebemos
Desde as constâncias da quebra das ondas
Até o vôo silencioso da gaivota perdida.
Enquanto o Mundo lá fora lambe as feridas do progresso
A Aldeia se cala
Ela sobrevive, pela paz do meu interior...