Esperança

Tênue feixe de luz

traspassa a escuridão.

Uma vela acessa

acaricia as paredes da solidão.

Ainda há esperança.

Um grito atravessa os séculos.

Um gemido quebra o silêncio.

Uma flor despetalada

aduba o chão.

Ainda há esperança.

Alguém procura o sol

E o suor tornar-se sangue,

atravessando bosques de sonhos,

em meio a multidão.

Ainda há esperança.

Oferendas surgem do nada

contemplando a vastidão

do deserto criado sem pão e água.

Caminhos de escravidão.

Ainda há esperança.

Uma voz se ouve em louvação.

Joelhos se dobram em contrição.

Uma criança nasce

em mares de arrebentação.

Ainda há esperança.

Versos surgem em meio aos escombros.

Rasgando as veias da inanição

brotam de esturricada terra

vidas em ebulição.

Ainda há esperança.

O homem adormece e o tempo avança

semeando flores e frutos,

de amores que ficam

no estreito espaço da razão.

Ainda há esperança.