ÀS VEZES FAZ FRIO
a morte é silêncio
e corre frouxa
vento leve que mau balança
a folha
não extrai o perfume
(o cheiro é do ar)
não despetala a flor;
é silenciosa, como a beleza
(ruidosa como os sonhos)
não é de pedra, é mansa
e baila, trapezista divino
riso sem som
cinema mudo
carlitos
nascente de rio...
às vezes faz frio
sentimento de chuva
(o cheiro é da alma
das águas)
aconchego de madrugada
mistério de cabeça de idoso
os pés não pesam
o corpo é uma chama
(fogo brando)
e se derrama pelos caminhos
visgo de pássaro
cinema novo
revolução
asas de condutor, viagem infinita
sonho infantil
é silenciosa como as horas
horas de silêncio nos intervalos
(halos no rosto da sombra)
sem tempo no pulso
sem uso de cores
sem adeus
silêncio.