A ti, que um dia me teve
Já me fiz sombrio,
já me julguei por tudo...
Me encontro nos dias de sol,
me aqueço de mim no inverno.
Como ando em companhia do vento,
esqueço de me esperar, e,
às vezes, esqueço de mim e de
tentar esquecer.
Numa rua qualquer alguém
acolhe alguém,
alguém beija alguém,
alguém vende amor a alguém,
numa rua qualquer...
Vejo o tilintar dos cristais,
o passar pesado do bonde,
o alvorecer fumacento de mais um dia.
Dia que transcorre anormalmente,
e mais uma notícia, me calo,
escuto meu íntimo, que nada diz,
que nada quer.
As filas imploram um olhar,
eu imploro um olhar.
Mulheres nuas dançam ao
som do rock,
não "dá rock".
Sirenes levam enfermos
e delinquentes,
multidões desesperadas
buscam um sucesso,
um cigarro,
um trago,
um motivo.
Paro, observo um ruído...
escuto um, mais um, menos um.
E vejo o fim de tarde,
um por do sol tímido,
brigando por uma vaga
entre blocos de cimento e vidro.
Sobe!
Desce!
Ruas e avenidas,
pontes e becos...
violências e afetos,
beijos e abraços,
mistos e mitos.
Estou ali,
mais uma rotina,
uma esquina de mim
um ponto qualquer.
Alheio a tudo
me enturmo no tumulto.
Espero paciência e
aguardo paciente o
desfecho dessa trama de mil atos,
um teatro vivo, doentio,
e belo....
Sim, belo. Chamado São Paulo,
sampa, pauliceia, qualquer coisa.
Sou um mero espectador
que me esqueci do inverno,
do verão e
de mim.
O vento sopra o meu aplauso,
não sei se ouviram.
Fim do dia,
fim do ato.