REDE NA VARANDA

Estou a descansar dos sonhos

Vida breve

O real bate à porta

Sono leve

Eterna marcha

Ao perfume inebriante

Da flor murcha

Deus assiste a um filme

Vida selvagem

E reconhece sua cria

Criatura indócil

Fogo nos campos

Os trovões arrancam as árvores

Verdes das florestas

Estou no cansaço da fé

Tempos obscuros

Subsolo na estrutura moral

Café salgado

Fome roedora

A driblar o suor na pintura

Do rosto de outrora

Deus assiste a um filme

Crianças brincando

No alpendre da folia

Instrumento gasto

Sol de plástico

A brilhar na máscara do rosto

Do espelho de fórmica.

Estou cansado do pálido colosso

Dias de sol posto

Na varanda da cozinha

Comida fria

Tempero insone

E a rede na varanda a balançar

A cria de olhar insosso.

INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI
Enviado por INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI em 05/05/2011
Código do texto: T2952003