REDE NA VARANDA
Estou a descansar dos sonhos
Vida breve
O real bate à porta
Sono leve
Eterna marcha
Ao perfume inebriante
Da flor murcha
Deus assiste a um filme
Vida selvagem
E reconhece sua cria
Criatura indócil
Fogo nos campos
Os trovões arrancam as árvores
Verdes das florestas
Estou no cansaço da fé
Tempos obscuros
Subsolo na estrutura moral
Café salgado
Fome roedora
A driblar o suor na pintura
Do rosto de outrora
Deus assiste a um filme
Crianças brincando
No alpendre da folia
Instrumento gasto
Sol de plástico
A brilhar na máscara do rosto
Do espelho de fórmica.
Estou cansado do pálido colosso
Dias de sol posto
Na varanda da cozinha
Comida fria
Tempero insone
E a rede na varanda a balançar
A cria de olhar insosso.