Não gosto de ramo de flores, quero jardineiras de vidas!
 
Desenlaçando os laços de fitas de um ramo de flores,
_ chorei! Senti-me desatando os nós que ficaram entre nos.
Eram flores de dissabores, lindas, mas...
Só flores, sem sentido,
sem viço, sem as cores
a alçar as alças que o tempo levou.

As olhei sem o lume de um jardim de mim,
um jardim sem eco,
sem pássaros,
um jardim de mármore grafitado “aqui jaz”!

Não tinha o rosto do céu, nem o gosto do vento brincando.
Não tinha o orvalho molhado
e as pétalas eram de amargura,

como o tempo que nos deixou no chão
em descoberto,
desmanchavam-se lentamente
sem poder se quer tocá-las.

Fenecidas, mas ainda viçosas davam a impressão,
de terem-as enlaçado a pouco, mas...
por serem retiradas
de seus galhos
que as alimentavam de amor...

Tornaram-se ramos de flores de terror,
se debatendo a me fitarem, em clamor!

Por entre as fitas, arames que as apertavam... choravam
_ Onde preservação?

Quando as tiramos de suas origens
enganamos a nós mesmos
serem flores de amor- doação,
e ceifamo-lhes a vida,
oferecendo a morte
no engano de belezas eternizadas,
sem respeito, com cortes pontiagudos de facas ou tesourões.

Eu as preferia nos jardins,
e não morrendo ali, diante de mim.

Seriam mais úteis ao meu olhar
e transformaria a vida de tantos...

Na comunhão exuberante de transformação,
livres, dançando,
acalentariam sonhares perdidos
em vê-las como mosaicos vivos.

Seriam mais felizes em proporcionar felicidade
a tantos corações vazios,

que as tocassem com benignidade,
sendo a flor que fossem,
mas sendo flores,
queridas a contemplarem pássaros nos jardins,

e não serem mutação, passagem de vida
de morte em apenas minutos de mutilação. 

_ Pra quê?_ Por quê?
Se os olhos precisam olhar vida,

pra continuarem a viver!
Eu não gosto de receber flores, e quando eu morrer,
não as matem para me enfeitar
o corpo que já está parado,
eu já não precisarei olha-las,
então...
Não as enterrem ainda vivas 
junto ao meu coração morto.
Deixem-as florir os campos, as copas das árvores,
enfeitar o mundo! Deixe-as viver!

 Edna Fialho
 
edna fialho
Enviado por edna fialho em 04/05/2011
Reeditado em 24/07/2012
Código do texto: T2949012
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