“Até tu Brutus?”

Betiolina pergunta

e o que você arruma pra fazer na roça,

você que é tão dada aos eventos culturais?

Ah doce mulher, até tu não me conheces ainda?

Não vês que sou feita de sóis, luas e estrelas

que aprecio o vento lambendo as folhas

a água murmurante petrificando meus pés

o olhar canil amistoso

a montaria respeitosa no cavalo Mordomo.

Não vês que quero estar junto aos meus

para comer, rir, angustiar, dormir

admirar as mãos femininas que tiram o leite

que trançam e cortam cabelos

se ferem com cordas e curam bicheiras.

Sentir-me à flor da pele...

na transmissão de uma mera receita de camarão metido à besta

ou madredeusando melodias extraordinárias!

Não me vês, dulcíssima mulher...

enrolando e soltando a linha de uma pipa branca

que baila entre notas azuis

ralando mamão, mandioca no ralo de feitio do Nego Queroba.

Esqueces... que meu encanto enlaça pássaros e cantos

que minhas retinas fotografam as mais diversas nuances de cores,

que meu corpo tem memória e vive!

Lígia Martins
Enviado por Lígia Martins em 27/04/2011
Código do texto: T2934177
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