A Casa
Era simples como a vida deve ser,
sem pinturas vibrantes, cristais ou peças finas.
Chão batido, telhado nas coxas, reboco velho.
Uma varanda pequena, portas para o nascente...
Um dia de novidades, na casa de minha pouca idade.
Naquele paraíso minúsculo eu guardava minha ternura.
Um quintal de árvores frutíferas,
de bichos diversos, de criação da vovó.
Era o mundo mais perfeito, tamanha a imperfeição da vida lá fora.
Os vizinhos se amontoavam no alpendre,
do fundo do quintal alguém grita uma frase qualquer...
era o sinal para boas prosas, comida farta, felicidade plena.
Todo dia, ao nascer de um novo dia, mamãe dizia:
– Hoje tudo vai ser diferente.
E mesmo que não fosse assim,
a tolice de nossa inocência nos permitia sonhar.
Os sonhos eram diferentes e continham um mesmo sabor.
Sabor de cada dia, um novo dia.
A casa de minha meninice era assim, poucos móveis,
muitos lugares,
A casa era demasiado feia, mas a beleza de seu interior
eclodia em nossos corações.
A casa não tinha trancas, nem segredos...
tudo às claras, como a vida simples de quem é probo.
Nada de novo em lugar nenhum,
um curral e um pasto, uma plantação e um manejar de mãos.
Um vale sem encantos e com cantos mil...
Uma casa de labutas e pelejas,
um lugar de paz e nudez,
paz de espírito e nu de vaidades vãs...
A casa, abrigo de todo um tempo.