Vou me embora para a Paraíba !
Vou me embora para a Paraíba !
Lá era feliz e não sabia !
Era amigo de Lampião
e de Maria Bonita também,
que, de vêz em quando,
no escondidinho,
dava umas piscadelas para mim !
Vou me embora prô Sertão,
comer manguzá, macaxeira, pirão, tapioca,
carangueijo, carne de sol
e lambuzar o pão
com manteiga de garrafa !
Vou me banhar na praia de Tambaú,
a mais bonita do Brasil,
e visitar o sítio onde nasci,
cheio de mangueiras frondosas
que davam as mangas-rosa
mais gostosas que já comi !
Vou me embora para o Nordeste,
tenho saudades dos cabras da peste
que me amam e querem bem
e, quando não gostam de alguém,
resolvem tudo no facão
e atingem logo naquele lugar,
que deixam o homem falando fino,
e mudam imediatamente seu destino !
Vou me embora para a terrinha,
comer coco na beira da praia,
viver de sombra e agua fresca,
sentado na cadeirinha
e ficar só olhando as mulheres que passam
brejeiras,
cujas saias coloridas
levantam à todo momento,
deixando à mostra as calcinhas !
E me fazem pensar besteira !
Vou me embora para a Paraíba,
lá sou neto de Coronel,
sou convidado para as festas,
todos me tratam muito bem,
me chamam de eminente senhor doutor
e me colocam no Céu !
Vou me embora para João Pessoa,
terra fina, gente boa,
passear em torno da Lagoa
que fica bem no centro da cidade
perto da praça dos cem réis !
Ai, que felicidade,
re-encontrar minhas primas queridas
que morrem de saudades de mim
e vivem reclamando
que sou um ingrato
por esquecer minha cidade !
Não esqueci, não !
Vou, sim, me embora para meu torrão natal,
participar da festa de São João
mais bonita do País,
em Campina Grande !
Vou pegar uma nordestina magricela
me agarrar bem forte nela
e sapecar um forró animado
até desmaiar,
cansado !
Sem falar no porre de quentão !
E sem esquecer de Cajazeiras,
a última cidade paraibana antes do Ceará,
onde meu pai conheceu minha mãe,
se amaram por demais,
tiveram cinco filhos
e foram felizes até o fim !
Vou embora hoje mesmo,
as malas já arrumei,
a passagem está comprada
e nunca mais voltarei !
Adeus,
meu Rio de Janeiro,
velho e bom companheiro,
lugar que me adotou
desde os 13 dias de nascido !
Agora, já crescido,
lhe digo decidido:
nunca esquecerei
os amores que vivi
e os amigos que fiz aqui !