O SUBMUNDO DA ALMA
Minha alma não tem forma
mas é gorda
Minha culpa não tem razão
mas é sólida
Meus olhos não têm luz
mas são fogo
Meus dias não têm tempo
mas são longos
O fogo queima a forma
E solidifica as horas
O medo morre na véspera
Com o susto da alma
A casa suga da janela
A poeira que deixa marcas
Nos livros da estante
(casa honrada e livre)
Um frio leve chama os
Filhos da alma à consagração
As primeiras horas do dia
Me amedrontam
(morro um pouco a cada
Amanhecer)
As falas dos homens me
Afugentam
(sofro pelo calafrio da hora
De morrer)
Durmo com o silêncio
trazido pela música
nas vozes sublimes dos dons celestiais
Mísero homem sou
esfomeado no banquete
dos manjares da fertilização
Minha boca se fecha amedrontada
mas o coração explode
em chamas
Meus ouvidos emprenham pelos ecos
mas eu aborto antes
do desfalecimento
Minha angústia levita-me
mas eu sofro na utopia
da transformação
Meu silêncio debate-se contra a mente
e eu morro asfixiado
na contemplação.