Missivas

Vês, estou eu aqui num canto da vida

escrevendo memórias e buscando respostas.

São marcas da velha infância perdida,

da dor de ter crescido...

Teus braços flácidos já não me acolhem mais

e tua fala mansa hoje me acalma.

Lembro-me da tua energia ao me corrigir para o mundo...

Era mais viva a vida de antes.

Vês, meus passos agora são mais firmes.

Não é convicção, é cautela.

O que antes era entusiasmo e sonho

agora já não passa de um simples caminhar.

Eu ontem pensei em nós.

Estávamos sentados na velha varanda

e eu ouvia tuas histórias...

Hoje, sem ter para quem contar, escrevo as minhas.

A mesma varanda ainda repousa lá

e as nossas tardes hoje são modorrentas.

Eu sinto falta de uma vida de antes,

de quando eu tinha uma vida.

Aqui, neste paraíso às avessas, aonde me deixastes

eu arrasto meus dias em busca de um norte.

Vês, meus sonhos agora são noites mal dormidas

e minha felicidade, esta constante procura, já me escorre entre os dedos.

Embriagado em minhas lembranças

eu te escuto no silêncio sepulcral.

Eu quero a tua firme presença a me dizer verdades,

teu colo quente e passivo,

tua paciência e bondade,

tua neurose amorosa e cruel, despretensiosa....

Enfim, são apenas escritos que nunca mais

irás ler...

Registros de uma vida, em naquim, e num papel de embrulho.

VALBER DINIZ
Enviado por VALBER DINIZ em 10/03/2011
Reeditado em 26/05/2011
Código do texto: T2839070
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