40 anos

Eu hoje quero a canção mais bela,

que fale de um amor racional

e não daqueles que nos melam de sentimentos vãos...

Eu hoje quero o melhor poema.

De duas frases e de pouco sentimento.

Aquele que nos remete a pensar o íntimo de cada momento.

Eu hoje quero a flor mais bonita,

não sei se açucena, se artemísia, se uma rosa.

Oferto-a à primeira dama, a da música que dançamos e do poema dedicado.

Eu hoje quero a mais completa calma.

O balançar da rede, a frescura do vento, o calor emanado.

Um misto de alegria e nostalgia, no afago das memórias.

Eu hoje quero a brisa do mar, o iodo do sal, o pescador e sua obra.

Eu hoje quero a fortaleza da montanha, a ternura da mata virgem,

e a calma do riacho em seu leito.

Eu hoje quero você por inteiro. Do meu lado e não distante....

mais perto do que o toque das mãos.

Quero um silêncio que fale mais,

palavras que abençoem, risos que contagiem.

Eu hoje quero a ave Maria mais longa,

o sermão mais curto e Deus bem mais amigo.

Eu hoje me despeço da vida de sonhos,

viajo na transcendental estrada do tempo...

perco o ar de menino, ganho a vida real.

Eu hoje leio livros que a ciência não ousa (ou ousou) escrever,

arregaço as mangas numa labuta constante:

sobreviver diante das dores de todo ser.

Eu hoje deixei o colo da mulher mais pura

e me aventurei em braços desconhecidos.

Cortei o cordão que unia, por afeto, dois seres

e me juntei a entranhas quentes e triviais.

Eu hoje me chamo de homem.

Deixo o menino que um dia fui e a criança que perdeu-se num vão qualquer

da triste vida que escolhemos...

Se sou feliz, ainda não sei,

mas hoje, só por hoje, eu sei que serei um rei.

VALBER DINIZ
Enviado por VALBER DINIZ em 25/02/2011
Reeditado em 12/05/2011
Código do texto: T2814616
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