40 anos
Eu hoje quero a canção mais bela,
que fale de um amor racional
e não daqueles que nos melam de sentimentos vãos...
Eu hoje quero o melhor poema.
De duas frases e de pouco sentimento.
Aquele que nos remete a pensar o íntimo de cada momento.
Eu hoje quero a flor mais bonita,
não sei se açucena, se artemísia, se uma rosa.
Oferto-a à primeira dama, a da música que dançamos e do poema dedicado.
Eu hoje quero a mais completa calma.
O balançar da rede, a frescura do vento, o calor emanado.
Um misto de alegria e nostalgia, no afago das memórias.
Eu hoje quero a brisa do mar, o iodo do sal, o pescador e sua obra.
Eu hoje quero a fortaleza da montanha, a ternura da mata virgem,
e a calma do riacho em seu leito.
Eu hoje quero você por inteiro. Do meu lado e não distante....
mais perto do que o toque das mãos.
Quero um silêncio que fale mais,
palavras que abençoem, risos que contagiem.
Eu hoje quero a ave Maria mais longa,
o sermão mais curto e Deus bem mais amigo.
Eu hoje me despeço da vida de sonhos,
viajo na transcendental estrada do tempo...
perco o ar de menino, ganho a vida real.
Eu hoje leio livros que a ciência não ousa (ou ousou) escrever,
arregaço as mangas numa labuta constante:
sobreviver diante das dores de todo ser.
Eu hoje deixei o colo da mulher mais pura
e me aventurei em braços desconhecidos.
Cortei o cordão que unia, por afeto, dois seres
e me juntei a entranhas quentes e triviais.
Eu hoje me chamo de homem.
Deixo o menino que um dia fui e a criança que perdeu-se num vão qualquer
da triste vida que escolhemos...
Se sou feliz, ainda não sei,
mas hoje, só por hoje, eu sei que serei um rei.