SOBRE A SOMBRA DE UMA FOGUEIRA

Recordação de tempos antigos, que não são tão antigos assim…

SOBRE A SOMBRA DE UMA FOGUEIRA

Queimámos a solidão

Porque te tinha

À minha beira

A ilusão

Não foi tema de conversa

Foi motivo

Sobre a sombra de uma fogueira

No trinado

Bem afinado

Vindo de uma guitarra

Julgámos a noite eterna

E por isso

A festa

Foi animada

Sobre a sombra de uma fogueira

Deixámos

Que as vozes

Boas ou más

Subissem até às estrelas

Acompanhando as faúlhas

Que saíam dela

Sobre a sombra de uma fogueira

Dançámos mil danças

E mais mil

Deixámos por dançar

Fomos felizes

Em todo o infinito

Mas sobretudo

Naquele suave estar

Sobre a sombra de uma fogueira

Contámos muitas histórias

Umas de assombrar

Outras

De encantar

Deixámos que o mito

Fosse a nossa realidade

E por um instante

Não queríamos estar noutro lugar

Sobre a sombra de uma fogueira

Crescemos

Na ternura

De uma adolescência

Que estava a acabar

Aquela seria

A última noite juntos

E depois

Partiria

Cada um

Para o seu distante lugar

Mas jurámos

Que mais tarde

Nos havíamos de encontrar

Mentirinha inocentemente piedosa…

Eu encontrei

Outras fogueiras

Outras sensações

Que não quero deixar morrer

Mas procuro

Entre as labaredas

Uma forma

De

Para sempre crescer

E aproveitar

A imensidão

Com a mesma ternura

Desses tempos antigos

Que se perderam

Entre a claridade

E a escuridão…

Sobre a sombra de uma fogueira