Fim de tarde

Veja você, o céu hoje está menos azul.

Uma nuvem marrom parece dominar os ares.

São marcas de sentimentos que se vão

e na poeira cósmica do eu incompreendido,

o firmamento as guarda, como que por recordação e culpa.

Veja você, a música não é mais tão bela

e os versos parecem sem sentido.

Talvez o nosso fim de tarde, hoje,

seja o de ficar em casa vendo a chuva cair.

Lágrimas de nós dois? Lágrimas divinas por todos nós?

Apenas um banho de Deus sobre nossos atos?

Veja você, nossos sonhos de infância

viraram realidades duras. O que era rascunho inocente

hoje é um concreto ruminante.

Se ontem éramos a querência de um amanhã perfeito,

hoje somos o retrato, em branco e preto, do que não queríamos.

Veja você, sobrevivemos a nós

e às curvas da nossa estrada desembocaram no vale das sombras.

Sentamos à beira do caminho e ouvimos nossos pensamentos a nos cobrar.

Veja você, a vida passou por nós e ainda que queiramos continuar

ela, a nossa vida, nos diz para ficarmos aqui.

É o fim de nossa saga.

Veja você, construímos um império na areia,

uma vida num pacto de convivência,

uma história sem prólogo, meio ou epílogo.

Veja você, é o nosso caso de amor.

O nosso único, e verdadeiro, caso de amor.

Veja você, nos vemos um ao outro em completo estado letárgico...

enebriados por medos repentinos e assombrações constantes,

recriamos a nossa lida como um coveiro em seu ofício.

Melancólico, indiferente, triste.

Eu finjo que a amo hoje e sempre

e a espero, de braços abertos, por toda uma vida.

E você...

Veja você, envelhecemos sem saber um do outro.

Veja você, um gole de vódica, um cigarro, e mais um por do sol.

VALBER DINIZ
Enviado por VALBER DINIZ em 09/02/2011
Reeditado em 23/03/2012
Código do texto: T2781438
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