Oblíquos
Cruel enleio que delinea minha face pálida,
Atira-me às sombras mórbidas da insensatez,
Tira-me fantasias que nutrem a alma cálida,
Esvai num redemoinho silêncioso descolorindo minha tez...
Suga-me sentimentos puros transformando-os em dores,
Meu corpo abandonado em sulcos da imaginação,
Afloram espinhos e hastes ríspidas onde haviam flores,
Enrijece como rocha meu suave coração...
Meus braços já não alcançam os teus,
Minha voz soa como a de um pássaro perecendo,
Meu vôo alto como se enterrando num breu,
Minha essência cintilante desaparecendo...
Já não sinto teus olhares,
Nem teus lábios sobre os meus,
Não há volta, nem noites espetaculares,
Nem o toque e o brilho dos olhos teus...
A bruma gélida que se apossa vertiginosa
Derrama prantos desesperados e aflitos,
Mas a vida continua, impiedosa
E seguimos... como dois pontos oblíquos.