João Jangadeiro
João Jangadeiro, esguio, mulato,
Acorda cedinho, rumo para o mar,
Com sua jangada, para vida pescar...
João Jangadeiro, feliz, sonhador,
Com sua jangada, velha, furada...
Na enseada ginga, balança,
Parece veleiro de gente importante...
Igual a um navio, que roda o mundo.
João Jangadeiro enfrenta as ondas,
E a tempestade, de vento uivante,
Raios, trovões, rompantes na noite,
Nunca abala a velha jangada...
A rede é velha, malhas abertas...
O mar, um amigo, entrega para o João
O fruto do seio, de suas entranhas...
Então na enseada, mercado da praia,
João vende o peixe e compra o pão...
João Jangadeiro, mulato de prosa,
Conta vantagens da embarcação,
Mostra a carranca, escudo encantado,
Que leva para o mar, e a vida pescar...
João Jangadeiro, cansado, abatido,
Volta ao barraco, longe da praia.
Um bando de filhos, qual passarinhos,
Esperam do João o pão, o carinho...
Sua mulher, faceira, vivida,
Espera o João, alegre, trigueira...
João Jangadeiro na rede adormece,
No sonho o leme do grande navio,
Sonho encantado, barraco vazio...
João Jangadeiro quer mesmo lutar,
Acorda cedinho, para a vida pescar!
( Do Livro Diagnóstico)