Devaneios
Talvez um dia, num desses cotidianos entediados, um
caga sebo encontre, entre seus alfarrábios, a minha boceta de pandora.
De lá, leia em voz baixa e quase muda as minhas traquinagens na língua mater...
Quem sabe, se entre os delírios haja um declínio para o lúcido?
E de lá, do ponto alto, ele se jogue em devaneios interpretativos e tente, ainda que sorrateiramente, decifrar a alma deste que vos escreve.
E a humanidade possa, enfim, conhecer a face flácida de um poeta e sua loucura.
Há quem, muitos, por ignorância plena, chamam de mentiroso, fingidor, louco, sei lá...
Não. Nem de longe somos tamanha desgraça. Ao contrário, ignóbeis e disparates versos contam mais do que notícias velhas.
Em frases ligeiras e leituras simples,
muito mais há que se entender. Se contemplar. Se guarnecer.
São sentimentos mistos, vindos de um único ser.
Entenda-se, são apenas versos alheios, de momentos íntimos e vontade nuas.
Talvez, um ignaro dotado de tamanha sensatez possa, de forma lúdica, reler os versos.
Talvez, na mais calma das bebedeiras, esse imbecil incauto venha a ser o maior tradutor da dor de quem escreve tamanhos temas...
Versos íntimos, torpezas, proezas, infortúnios, desamores, verdades...
Sabe Deus o quão difícil é. Mas escrevemos para aplacar solidões, homenagear a vida e saborear dizeres.
Somos assim, maltrapilhos das letras, soberbos de sentimentos, puros e profanos, completos e parcos. Espasmos e quimeras.
Somos a vida do outro em verso e prosa.
À quem, tão singelamente, doamos barretes.