Devaneios

Talvez um dia, num desses cotidianos entediados, um

caga sebo encontre, entre seus alfarrábios, a minha boceta de pandora.

De lá, leia em voz baixa e quase muda as minhas traquinagens na língua mater...

Quem sabe, se entre os delírios haja um declínio para o lúcido?

E de lá, do ponto alto, ele se jogue em devaneios interpretativos e tente, ainda que sorrateiramente, decifrar a alma deste que vos escreve.

E a humanidade possa, enfim, conhecer a face flácida de um poeta e sua loucura.

Há quem, muitos, por ignorância plena, chamam de mentiroso, fingidor, louco, sei lá...

Não. Nem de longe somos tamanha desgraça. Ao contrário, ignóbeis e disparates versos contam mais do que notícias velhas.

Em frases ligeiras e leituras simples,

muito mais há que se entender. Se contemplar. Se guarnecer.

São sentimentos mistos, vindos de um único ser.

Entenda-se, são apenas versos alheios, de momentos íntimos e vontade nuas.

Talvez, um ignaro dotado de tamanha sensatez possa, de forma lúdica, reler os versos.

Talvez, na mais calma das bebedeiras, esse imbecil incauto venha a ser o maior tradutor da dor de quem escreve tamanhos temas...

Versos íntimos, torpezas, proezas, infortúnios, desamores, verdades...

Sabe Deus o quão difícil é. Mas escrevemos para aplacar solidões, homenagear a vida e saborear dizeres.

Somos assim, maltrapilhos das letras, soberbos de sentimentos, puros e profanos, completos e parcos. Espasmos e quimeras.

Somos a vida do outro em verso e prosa.

À quem, tão singelamente, doamos barretes.

VALBER DINIZ
Enviado por VALBER DINIZ em 18/11/2010
Reeditado em 04/08/2011
Código do texto: T2622968
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.