TEMPESTADE
Primeiro veio o Vento-
Velando com voz de soprano-
Veio a gigante e feroz Ventania
E o seu Véu veio veloz
Varrendo e lambendo tudo.
Depois veio o Raio
Trazendo pelo braço
Sua amante Trovoada
E o casal apavorante
Veio roendo, veio cantando
Sua grave cantiga,
banhando tudo
de temor, arrepio e claridade
A incendiar sem piedade
A árvore solitária na campina,
E a madeira se pôs também a entoar os seus acordes,
e estalava,
e mexia,
e Ruia...
No cinza do céu sedento,
Vieram os xales
Voando na fúria da chuva que chia,
se entranha na terra,
E escorre, como a Vida,
Que nos enche as mãos e atravessa os dedos.
Voando na tempestade
Fui também,
Fui num vai-vem veemente
A balançar os meus galhos
E me pus a dançar.
Em minha Dança tive como par a Chuva,
O Vento me conduzia.
Dancei na claridade do Raio
Dancei ao som do Trovão
Dancei com os pés sobre a brasa,
E, sem pestanejar,
Beijei a árvore,
Que ardia.
- Depois do nosso baile
A Lua brilhou silenciosa por entre as nuvens...
No Campo Solitário,
Minha respiração ofegante
E um Silêncio revelador
Anunciavam a Calmaria.
17/11/10