A Deus e adeus
Era sempre assim, aos domingos ele vinha, invadia a minha casa, me deixava ensudercido, implantava a ansiedade em mim e na minha família e me expunha ao nervosismo sem me pedir licença, e depois...
Muitas vezes tentei fugir, procurei outros ambientes. Não adiantava, todos pareciam hipinotizados com aquela presença. Homenzinho magro, de cara miúda, que no final sorria, chorava e sempre nos dava um banho de champanhe. Era sempre assim.
Agora eu te pergunto: gostei, fiquei apaixonado e você vai embora sem se despedir? E a musiquinha (a que tocaram no domingo era tão triste)? Não vejo tremular ao vento a nossa bandeira presa ao seu braço forte, não ouço o grito da multidão, nada. Por que essa pressa de ir? Deus te chamou, não foi?! Te pediu para correr no céu e fazê-lo feliz pessoalmente? Então vai. Diz a Ele que continuamos aqui, que somos seus admiradores. De vez em quando, venha pilotar o carro de um outro brasileiro para que voltemos a ter a nossa dignidade reconhecida e ânimo para continuar na luta.
O teu exemplo deve ser seguido, que Deus te ponha no pódium de sua glória e te cubra com a recompensa que te é merecida.
Obrigado amigo, um dia a gente se vê.
(Homenagem ao piloto Ayrton Senna, quando de sua morte. Publicado no Correio Braziliense em 9/5/94)