RUGAS DA BELEZA

Gavetas cheias do nada
Livros e revistas que gritam
Prazos de validade expiram
De coisas que não lembrava existir

Acúmulo. Roupas pouco usadas
Maquiagens ultrapassadas
De máscaras que teimam cair
Dos padrões que quero sair

Ombros arcados do peso invisível
Acomodação com máscara de calma
Costume aceito que aos poucos
Dá endereço incerto à alma

Abro novamente a gaveta
Lá no fundo a caixa preta
De meus sonhos guardados, amarrotados
Caderno velho, lápis desbotados

Loucuras bem guardadas
Em puro coração alado
Fogem do corpo cansado
Pelo tempo sempre escravizado

Percebo que o velho,
O usado, a pele seca
E a mão trêmula
Sempre por aqui estiveram

Rugas da beleza
Vincos de alma acesa
Onde a luz de passos incertos
No amor põe sua mesa.