LARVA
Sinto-te como quem sente flores pisadas no chão
Borboletas abortadas no casulo
Ou versos que não se estabelecem no papel
Sinto-te torpe
Num desespero que tropeça na loucura
E amassa papéis velhos socados nas gavetas.
Nem sei se o momento é de encontro
Ou se o sorriso é de verdade
Cambaleio em meio a mentiras
E mudo todas as minhas senhas
Para que nem eu mesma me ache
Estou à mercê do seu beijo matinal
Das suas carícias adornadas pelo desejo
E desta sua insistência em reafirmar o amor que,
Se existe, não o considero diretamente a mim.
Cansa-me a imperícia dos homens
O linguajar chulo das amantes contrariadas
O vaivém de bobagens que escuto e finjo não entender
Não quero nada
Absolutamente nada
Porque o nada é uma imensa estrada
Na qual construímos nossos sonhos
E, cedo ou tarde, todos eles se despedaçam
Como as flores pisadas no chão por onde passas
Ou as larvas que nunca experimentarão
A beleza infinita das borboletas.