SONHANDO COM A VIDA

Ao longe, um farfalhar de folhas secas,

Sendo pisadas sobre a grama fresca,

Parece sussurrar meu nome.

Chamam por mim, aos relinchos,

Nas baias, os cavalos mais lindos,

Almejando a doce liberdade.

Pelas vastas florestas, nas colinas,

Esperam-me as saíras e os colibrís.

Num canto qualquer da minha casa,

Malas e mochilas brilham feito purpurina

Tentando chamar-me à atenção.

Na loja da esquina, em meio ao tráfego,

Como sempre intenso e insuportável...

Berrantes, chapéus, cinturões, botas e jeans,

Transformam-se em ímãs, me atraem

Num profundo e irresistível chamado.

Em minha varanda, num triste anoitecer,

Entre buzinas irritantes e insolentes

E o terrível odor dos escapamentos,

Sem que eu saiba como, um aroma de jasmim

Alcança-me... Bendita alucinação!

Ilusão... Apenas e infelizmente ilusão...

O real é amargo, mas existe

E feito chicote, corta, ferindo o ar!

Mesmo assim, não mais que de repente,

Minha cadeira moderna, é cadeira de balanço.

Minha varanda iluminada está na penumbra,

De onde admiro belos vaga-lumes,

Desfilando a piscar, bem à minha frente.

Sinto o cheiro de um infinito verde

Molhado pelo orvalho ameno

Durante a calma da madrugada, adentro.

Ao amanhecer, a brisa que vem das matas, me arrepia.

Porém, defaço-me da manta xadrez macia,

Ao selar meu majestoso cavalo, enquanto sussurro

Doces palavras, ao meu velho amigo.

E lá vamos nós, bravos e destemidos!

Galopamos livres, tentamos alçar vôo.

Não há semáforos, guardas ou bandidos...

Apenas um milagroso vento, em nossas crinas!