Na palma da mão
Cabe aqui entre os dedos,
os medos de uma vida errante.
Cabe, cabe, sim, entre os dedos
todos os dedos que usei para contar os dias,
foram tantos, tantos e quantos,
que perdi a conta na ponta dos dedos.
A mão de linhas tortas, de frases curtas,
de risos ligeiros, de atos impuros,
acenos, obcenos...
Mãos de palmas calejadas,
de riscos tracejados, de verdades e mentiras.
Mãos de adeuses frenéticos, apertos trêmulos,
carícias plenas.
Mão a escrever a carta, a jogar o beijo,
a socar o ar, a esmurrar o vento, a abafar.
Mão que afaga, que carrega, que sofre
o peso do corpo, que reflete uma vida.
Mãos com dedos longos, com história longa
e períodos curtos,
mãos que não são iguais,
que nada dizem, que ganham vidas,
carícias, armas, conflitos.
Mãos de dedos finos, pérfidos anéis.
Mãos que dizem tudo, em silêncio de marcas,
de traços firmes, de expressões sinceras.
Cabe aqui, na palma da mão
o livro de uma vida, de tantas vidas,
de tantos vãos...