SAUDADE
A vela sobre a minha escrivaninha
levantava uma densa fumaça
exalando um cheiro forte de parafina
Eu escrevia agora uma poesia
onde eu tentava dizimar
a tristeza que eu sentia
Parecia um cheiro de morte
que invadia-me até à alma
mas não era isso, por sorte
Era um silêncio estarrecedor
em meio a um grande vazio
de um porquê, interrogador
Com papel e caneta na mão
me pus a escrever tudo
tudo o que havia no meu coração
Colocava agora em meus versos
minuciosamente traduzidos
os meus sentimentos secretos
No quarto embebido de escuridão
só com a luz da vela a queimar
punha-me a rezar de coração
Pois meus sentimentos são obscuros
e colocados aqui em versos
tornam-se muito confusos
Meus olhos vislumbram o queimar
de uma vela imensa
que está como eu, a se apagar
Mas antes dela sumir
meus versos vou escrever
para gravar o que estou a sentir
Com a pouca claridade
que ainda me resta
escrevo a palavra saudade
Pois é isso que está a me consumir
é isso que me faz chorar
por não conseguir dela fugir
Quando toda vela derreter
talvez eu pare de chorar
e eu consiga adormecer
Com os olhos inchados
e o nariz impregnado
de tanta fumaça ter inalado
Talvez me entregue ao cansaço
e esqueça dessa saudade
deixando clarear meu espaço
Clarear meu espaço interior
que como o pavio enegrecido
está tomado pela dor
Saudade...
minha saudade fria
és maldade
Maldade que mata a minha vida
que destrói
derretendo-me como parafina.