SAUDADE

A vela sobre a minha escrivaninha

levantava uma densa fumaça

exalando um cheiro forte de parafina

Eu escrevia agora uma poesia

onde eu tentava dizimar

a tristeza que eu sentia

Parecia um cheiro de morte

que invadia-me até à alma

mas não era isso, por sorte

Era um silêncio estarrecedor

em meio a um grande vazio

de um porquê, interrogador

Com papel e caneta na mão

me pus a escrever tudo

tudo o que havia no meu coração

Colocava agora em meus versos

minuciosamente traduzidos

os meus sentimentos secretos

No quarto embebido de escuridão

só com a luz da vela a queimar

punha-me a rezar de coração

Pois meus sentimentos são obscuros

e colocados aqui em versos

tornam-se muito confusos

Meus olhos vislumbram o queimar

de uma vela imensa

que está como eu, a se apagar

Mas antes dela sumir

meus versos vou escrever

para gravar o que estou a sentir

Com a pouca claridade

que ainda me resta

escrevo a palavra saudade

Pois é isso que está a me consumir

é isso que me faz chorar

por não conseguir dela fugir

Quando toda vela derreter

talvez eu pare de chorar

e eu consiga adormecer

Com os olhos inchados

e o nariz impregnado

de tanta fumaça ter inalado

Talvez me entregue ao cansaço

e esqueça dessa saudade

deixando clarear meu espaço

Clarear meu espaço interior

que como o pavio enegrecido

está tomado pela dor

Saudade...

minha saudade fria

és maldade

Maldade que mata a minha vida

que destrói

derretendo-me como parafina.

milizinha
Enviado por milizinha em 24/09/2006
Reeditado em 20/05/2011
Código do texto: T248394
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