Sorrateiro (à minha retinopatia)

Foi um vento que passou na minha rua

e zunindo bordejou a minha porta

logradouro de uma tristeza crua

e minha rua ficou mais feia e torta

O destino nos vem tão sorrateiro

e impõe novo rumo a nossas vidas

e o que ontem era um cancioneiro

hoje é mera canção entristecida

Os meus ohos que nunca foram brilho

mas também nunca foram opacidade

já me traem nos caminhos que trilho

mentirosos não me falam a verdade

Ao rever a minha rua naquela tarde

já despojado do prazer da lida

vi que o destino vento sorrateiro

me roubava as janelas da vida