VIDA CABOCLA
Eu moro naquele alto
Bem distante do asfalto
Num ranchinho beira chão;
Sem o luxo da cidade,
Sem conforto e vaidade,
Sem energia e televisão.
À noite é um lindo véu
As estrelas brilham no céu,
A lua cheia faz clarão;
O silêncio é mais profundo
Não tem buzina e vagabundo,
Tem a luz de um lampião.
Minha casinha é bem modesta,
Mas todo dia tem festa,
Não se pensa no pior;
E quando amanhece o dia
A passarada faz cantoria
Cada um canta melhor.
Canta o bem-te-vi na porteira,
O sabiá canta na aroeira,
Canta livre o curió;
Até o inhambu no grotão
Faz dueto com o azulão
Lá no meio do cipó.
Nos galhos do imbuzeiro,
No pasto e no terreiro
A algazarra ainda é maior;
O João-de-barro satisfeito
Faz seu lar sem defeito
O tico-tico ver melhor.
À tardinha quase nua
A cantoria continua
Ninguém quer ficar pra trás;
E o tempo passa assim
Numa felicidade sem fim:
Vida cabocla, nada mais.