Chapeuzinho vermelho no sertão do nordeste by Alma Gort
Eu ia passar as férias
Com a avó que eu amava
E era um menininha,
Que de sonhos alentava.
Era dela duas casinhas,
Uma na cidadezinha,
Outra num sítio que tinha.
Nos vivíamos lá e cá,
Em toda aquela alegria,
A cuidar de umas vaquinhas,
E do burrico teteu,
Que carregava a agua,
Para os serviços da casa
Ia também no lombo seu.
No caminho que trilhava,
Nosso passos todo dia,
Havia uma parada,
Para todos que cansava,
Debaixo de grande arvore,
Que um riacho beirava.
O povo dali falava,
Que ali tinha assombração,
Porque naquele lugar
Também parava caixão,
Que carregava os mortos,
Daquele grande sertão
Um dia minha vozinha,
Pediu pra eu ir comprar
Fósforos que ela não tinha,
Para cozinhar o jantar,
Já era de tardezinha,
Eu eu tinha que passar,
No assombrado lugar,
Obedecendo a ela
Fui direto sem pensar.
Quando passei no riacho,
Debaixo daquela arvore,
O meu medo era tão grande
Eu quase a evacuar,
Os meus olhos foi fechar!
Ao abri-lo, em minha frente,
vi um pretão a falar!
Menina pronde tu vai,
Sozinha neste lugar?
Os olhos dele vermelho,
Tal como seu vestuário,
Parecia com o diabo,
Aquele mal mal-assombrado,
Duma coisa estava certa
Tinha visto o capeta,
Disto eu tinha certeza
Meus passos em disparada,
Pisou numa lama funda,
Depois numa pedra fria,
Fui correndo tão depressa
Meus pés na bunda batia,
Ah ! Meu Deus como corria.
Na cidade vi um primo,
E contei a ele o fato,
Ele de espingarda em punho,
Me falou todo assanhado,
Vamos lá matar o bicho,
Tava toda encorajado.
Eu falei a ele mesmo,
Nem contigo, nem com outro,
Eu volto aquele riacho!
Nunca mais em minha vida,
Eu vi a tal criatura,
Foi um capitulo passado,
Que não me trouxe ventura.
Pode ser que você ria.
Mais se eu visse a visagem,
Que vi naquela agonia,
Daria a mesma carreira,
Que eu dei naquele dia.