Parece medo da morte

Não deixamos de viver porque estamos tristes ou com medo. Apenas vivemos medos e tristezas.

A morte, desculpa mais óbvia para deixar a vida, é apenas desculpa. Há quem chame de passagem, há quem chame de estágio.

Não creio nessas duas teses. Na primeira, porque passagem dá e passa. Foi! Momento. Não volta e não se renova. Passou. A morte não passa, não se renova. A morte é eterna - acho um desperdício - e não conheço ninguém que tenha passado - a morte - e se renovado.

Na segunda afirmação, a que chamam de estágio, eu também discordo. O estágio é o aprendizado mais cruel da vida. Quem faz estágio é estagiário e estagiário quase sempre é nada. A morte não é nada. A morte é a vida desistida, cansada, estarrecida. A morte é doença que não cura, é promessa não cumprida. A morte mata, sufoca sonhos, enterra luz, encerra a vida.

A morte é a prisão da alma num quarto eterno e cheio de vidas. Vidas ceifadas. Chorar a morte é dedicar sentimentos a quem não merece. Há que se celebrar a vida...

Cantar a canção mais bela, vestir a melhor roupa, ouvir a melhor piada, peidar no sofá, arrotar na mesa, sorrir sem dentes ou equilibrar os netos na palma da mão rindo, como se esse feito fosse o mais nobre dos projetos, o mais feliz dos momentos. Nisso há vida. Nisso há sentido.

Deixe desse negócio de chorar a morte. É mais negócio viver a vida.

VALBER DINIZ
Enviado por VALBER DINIZ em 17/06/2010
Reeditado em 24/03/2011
Código do texto: T2325038
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