Fim dos dias
E sob um solo de cello, sentiu a vida fluir do seu corpo. Lentamente, docemente. Não quis lutar, a sensação era boa. De paz, de tranquilidade, o que não sentia há tanto tempo que nem lembrava. Ele queria apenas ficar ali, naquele momento perfumado, com o som se indo aos poucos dos seus ouvidos, sentindo o corpo ficar mais leve, quase flutuando. O veneno começava a fazer efeito. Não sentiu medo. Só uma pontinha de tristeza, por tudo o que quis e não fez. Por tudo o que desejou e não teve. Por tudo o que espero e não teve coragem de buscar. A escuridão é quase total agora. As pálpebras, pesadas. O copo lhe cai da mão, mas ele nem escuta o som do vidro se partindo no chão. Se deixa levar. Lentamente. Até o fim.