Alma Viajante
Por que viajas tanto alma minha,
não vês que ao teu encalço presa eu sigo,
não sabes que ao teu lado eu prossigo,
e assim descarto o mal que se avizinha?
Por que não te acomodas calmamente,
por entre os azulados tons do mar?
Porque não te sossegas displicente,
deixando-te banhar pelo luar?
Por que não te acomodas nas neblinas
das serrras, cujo verde se escondeu,
ou na pequena estrela que acendeu...
a luz que agora há pelas esquinas?
Por que teimas em ser, tão sonhadora,
e andarilha, vagas nos quintais?
Por que a teimosia arrasadora...
que baila leve ao lado dos pardais?
Por que o sonho aplaca teus temores,
por que deslizas ao sabor do vento?
Por que voar, no mesmo movimento...
das nuvens que sussurram seus amores?
Por que a intensidade e a beleza
de tudo o que descreves nunca é plena,
e pensas que o sol e a natureza...
não cabem na tua letra tão pequena?
Por que passeias pelo infinito,
brincando de tentar ser imortal?
Por que te atrai o tempo irreal,
e calas o silêncio em alto grito.
Por que tu és assim: incoerente,
e morres quando vives só de amor,
e brota um lindo verso da semente,
regada pelo pranto da tua dor?
Por que minh'alma, livre e viajante,
me fazes tão faminta e inquieta?
Por que não te sacias um instante,
por que pulsas assim... alma poeta?