Deslumbramento
Estou entre as dunas de Cumbuco.
Dunas profanas!
Que se criam como caprichos do Divino.
Excitam-me e me explicitam.
Na minha frente: Dunas.
Depois a copa das árvores.
Levantando a vista para cima
Existem algumas nuvens frágeis,
E que se vão desmanchando como
Pensamentos distantes.
Aos poucos vislumbro com meu olho esquerdo
Uma luz.
Olhando diretamente para ela
Vejo como ela é forte e brilha
E ao seu lado outra luz
Brilha.
Ela é tão tênue como se seu vermelho
Fosse o toque especial do visual.
Continuando com o cérebro para
À esquerda
Movido com o auxílio da caixa
Craniana que carrego sobre o meu pescoço
Notam-se montanhas.
Primeiro, duas, em forma de seios;
Que são acariciadas por uma leve neblina
Que as cobre docemente.
Outras montanhas acompanham estes
Dois manás.
Como se estivessem de prontidão.
Aos pés das montanhas, outras
Duas luzes
Brilhando com maior cintilação
Que as primeiras,
Porém com menos importância
No cenário.
Levantando os olhos
Fico embasbacado com a nitidez
Do céu,
Que me envolvo algum tempo
Na procura de sua porta.
Mais parece uma imensa jarra de flores
Postada sobre a terra.
Daí, imagino Deus a segurá-la
E, de repente, este etéreo Ser
Cansado
Abre os dedos
E uma chuva de estrelas
Derramar-se-ia sobre as cabeças
Dos desprevenidos seres humanos.
(Poema escrito em 1982, na praia de Cumbuco-CE)