Restos

Numa curva qualquer de alguma estrada

(existirá endereço mais preciso?)

encontrarás jogada ao acostamento

uma folha de papel, suja e rasgada,

que algum poeta, por algum motivo,

deixou voar, sem direção, ao vento.

Numa curva qualquer de alguma estrada

(todos sabem onde fica esse lugar!)

os versos tristes que foram abandonados

fazem como se um dia, e hora marcada

houvesse para os reunir, ao chão jogados,

num doloroso exercício de versar.

Numa curva qualquer de alguma estrada

quando ouvires um estranho burburinho,

não perturbes os versos que sussuram

palavras de saudade, amor, carinho,

e que jogados ao chão ainda perduram

na esperança de ser tudo, pois são nada

para aquele que cruza o seu caminho.

Amaury Nicolini
Enviado por Amaury Nicolini em 26/01/2010
Código do texto: T2051640