PARIS... PARISTE?

PARIS... PARISTE?

Dia de chuva lá fora

e aqui dentro meus mistérios se alinhavam.

Arrumar o armário,

limpar traças que a naftalina não conseguiu

são para hoje meu itinerário.

Uma comidinha simples, sobremaneira, alimenta o paladar,

enquanto me refaço do afeto que não cabe no prato.

Na vitrola, um disco de Dalva me enche inteiro de sombras,

enquanto não me cobras o afeto fresco que a carne treme!

Como vês, sou do tempo do disco e da vitrola,

do tareco e da mariola,

do siri jogando bola lá no mar...

Dia de chuva lá fora,

mas da minha janela o bem-te-vi insiste em me ver:

vem beber água açucarada na varanda,

escancarando a nostalgia que, debalde, invade os aposentos!

No relicário desta tarde sobranceira,

o ritual da clausura enternece os tempos da vida parida:

passado, presente e futuro fecundam o instante que já não é!

Resta a recomposição do rosto do amor perdido

pela incompetência do tato no trato do amor fresco,

perfeito álibi para o beijo que quando pediram negamos,

que quando nos deram fugimos

que quando nos negaram não insistimos...

A chuva fina lá de fora remete Perlachese pelos sonhos sepultados,

pelos pontos falecidos sem os "is", ah Paris,

por que não pariste?