Coração fora de lei
Fui, num lindo mês de Abril,
Primaverar para a aldeia
E, num sonho pueril,
Vi-te naquela açoteia!
Ao plaino andava eu,
De papo ao ar no gramado,
Gozando o mel Hibleu
Dum Morfeu ensolarado.
Gemiam carros de bois,
Os begueiros orneando
E foi assim que, depois,
Lá fiquei filistriando.
Horas de lerda pachorra
Fragrância dos laranjais
Caí em leda modorra
Quero ver… não posso mais!
A guisalhada dos machos
Sons de longe, vista albugem,
Batidas como escalrachos,
Vacas, novilhos que mugem;
Eis senão quando: - Homessas!
Abscôndita, lá estavas,
No meio de heras espessas,
Mil ocelos me pousavas.
A umas guinadas lúbricas
Obedeci servilmente
Com cãibras nas partes púbicas
Propelido, inconsciente!
Aranha dos solavancos
Sagaz até à protérvia
Meteste-me tu em trancos
Por te crer devassa e pérvia
Como um perro desçamado,
Sofraldei-lhe a veste branca,
Encaixei-me em seu trançado,
Bifurquei-me em sua anca.
Descobri-lhe puridades
Deixadas transverberar;
Senti-lhe pilosidades
Que não se logram caçar.
Ataques de priapismo
Delírio erótico em teia
Onde, com todo o cinismo,
S’tava presa uma colmeia!
A solerte aranha enfrento
Nessa fêmea predadora
Lesta no enliçamento
Bem mais que a linda leitora
Ao acordar do brinquedo,
A tosquenejar com sono,
Deixei-me estar, mudo e quedo
Naquele doce abandono
Fui insecto: mosca ou pulga
Pensei, ao vê-la na estampa,
Fica doido quem se julga
Dono da coxinha branca.
Deixa de pedir esmolas
Meu coração mamposteiro
Sou cativo das sacolas
Dum Judas que é noveleiro.
(prova – em quadras soltas – de que eu navego no mar das conjecturas com tanta facilidade como o próprio Cabral navegava nos mares nunca dantes navegados)
(possuo o original deste bilhete postal, que tem cem anos!)
Fui, num lindo mês de Abril,
Primaverar para a aldeia
E, num sonho pueril,
Vi-te naquela açoteia!
Ao plaino andava eu,
De papo ao ar no gramado,
Gozando o mel Hibleu
Dum Morfeu ensolarado.
Gemiam carros de bois,
Os begueiros orneando
E foi assim que, depois,
Lá fiquei filistriando.
Horas de lerda pachorra
Fragrância dos laranjais
Caí em leda modorra
Quero ver… não posso mais!
A guisalhada dos machos
Sons de longe, vista albugem,
Batidas como escalrachos,
Vacas, novilhos que mugem;
Eis senão quando: - Homessas!
Abscôndita, lá estavas,
No meio de heras espessas,
Mil ocelos me pousavas.
A umas guinadas lúbricas
Obedeci servilmente
Com cãibras nas partes púbicas
Propelido, inconsciente!
Aranha dos solavancos
Sagaz até à protérvia
Meteste-me tu em trancos
Por te crer devassa e pérvia
Como um perro desçamado,
Sofraldei-lhe a veste branca,
Encaixei-me em seu trançado,
Bifurquei-me em sua anca.
Descobri-lhe puridades
Deixadas transverberar;
Senti-lhe pilosidades
Que não se logram caçar.
Ataques de priapismo
Delírio erótico em teia
Onde, com todo o cinismo,
S’tava presa uma colmeia!
A solerte aranha enfrento
Nessa fêmea predadora
Lesta no enliçamento
Bem mais que a linda leitora
Ao acordar do brinquedo,
A tosquenejar com sono,
Deixei-me estar, mudo e quedo
Naquele doce abandono
Fui insecto: mosca ou pulga
Pensei, ao vê-la na estampa,
Fica doido quem se julga
Dono da coxinha branca.
Deixa de pedir esmolas
Meu coração mamposteiro
Sou cativo das sacolas
Dum Judas que é noveleiro.
(prova – em quadras soltas – de que eu navego no mar das conjecturas com tanta facilidade como o próprio Cabral navegava nos mares nunca dantes navegados)
(possuo o original deste bilhete postal, que tem cem anos!)