O Meu Lar
Talvez o meu lar seja lá na curva do oceano,
Onde, à noite, os barcos somem, mas tornam pela manhã,
Cansados ou por medo do desconhecido;
Lá onde as nuvens baldadas decidem, por fim, morrer
Lá onde os urubus vão dormir
E voltam trazendo o dia antes mesmo do sol.
Talvez seja ali onde os anjos se encontram
Para brincar na chuva, sentir a lama, tocar o chão,
Enquanto Deus descansa um pouco de si.
Talvez seja lá o meu lar,
Lá onde os ventos param,
Os vulcões hibernam
E a paz se senta, em gozo, olhando as planícies que só ela vê.
Talvez seja ali onde as borboletas mortas ressuscitam
E as almas dos cães atropelados correm e não se cansam.
Talvez seja ali onde minha mãe me acalente, eternamente,
Num sono inumano
E costure, com seus retalhos de vida
Um vestido que vista a minha alma aflita.
Talvez haja uma varanda branca e algumas flores,
Quem sabe até um pomar,
Onde meu pai cultive e não sinta dores...
Ali. O meu lar.
Minha casa profunda.
Meu sempre dia de sol.