RIACHO DA RAIZ...
A SAGA DA FAMÍLIA “NUNES DE SOUZA”
A SAGA DA FAMÍLIA “NUNES DE SOUZA”
[01]
Cantinho do meu mundo, berço querido!
Da mais singela e pura felicidade,
Casa grande, telhas cumbucas, 13 filhos reunidos!
Hoje, todos vivem e trabalham na cidade...
[02]
Nas lindas manhãs ensolaradas,
ouvia o canto do "joão de barro",
os "pássaros pretos" em revoadas,
junto aos "sabiás" cantavam ali do lado.
[03]
O "canavial", como repouso e camuflagens das "nhambus". As mangueiras, abrigo seguro das "maritacas", "jandaias e periquitos". Nos grandes e velhos pés de laranja, "juritis" de asas azuis, céu de nuvens brancas, como flocos de algodão, no azul do infinito.
[04]
Na sombra generosa do robusto "tamboril",
bezerros, cavalos, vacas e bois se descansavam, borboletas e “cigarras", "grilos" e "louva-deus" como nunca se viu, voos rasantes de "andorinhas" e "gaviões", alí se encontravam.
[05]
O "baruzeiro" à beira da estrada, "marmeladas" e o "capão" de mato verde. A "cagaiteira inclinada", o gigante pé de “tamarindo”, o velho e guerreiro "gonçalo" com suas galhas formando um quatro. O "jacarandá", o "pé de capitão", e o pé de copaíba, o "pau d'óleo" imponente. Os "sabiás", nas laranjeiras, os "tico-ticos" nos pés de "jenipapo".
[06]
O pequeno "paiol" de milho, coberto de palhas, o "curral" muito modesto, feito de varas, o grande "mangueiro" dos porcos se lamearem, a pastagem do gado, dividida em quatro partes.
[07]
Na nova lavoura, brotos de "japecanga" e um grande "mandiocal". Na roça de cima, "milho e feijão", "capim meloso" e o "provisório". Na de baixo, melancia, arroz e amendoim e um pequeno cafezal. Colheitas fartas, sem agrotóxicos, tudo bem natural!
[08]
Saudades de chupar cana "caiana" e pitomba.
Vigiar o arrozal das jandaias e pássaros pretos, chupar melancias de tantas variedades, cantarolar canções apaixonadas do Amilton Lelo e Amado Batista...
[09]
No campo, chupar murici e no cerrado, colher pequi. Juntar esterco de cavalo para preparar a horta. Espantávamos o olho gordo com a folha do Tipí. Levar as vasilhas pras meninas lavarem na grota...
[10]
Na época de mangas, tantas lembranças e momentos que recordamos por inteiro. O primo "Neno" lá de Brasília, vinha curtir suas férias com seus causos mirabolantes da Capital e sempre trazia consigo um
estilingue certeiro, muita farofa de "rolinhas", juritis e periquitos se faziam...
[11]
A reza do terço em família, todo dia, propagava a paz e a união! As novenas do Natal e da Campanha da Fraternidade, quanta alegria! Vizinhos de perto ou de longe, era grande a participação. Nos finais de semana, forró do "Voninho", do “Mangabinha” ou uma animada quadrilha...
[12]
Lembro-me das nossas diversas brincadeiras,
“pular cordas e maré, ir à fonte itororó e brincar na “gangorra”. Balançar nas galhas das mangueiras. Cuidar dos filhotes de “papagaios e verdadeiras”...E ensinar a assobiar o “periquitinho vassoura.”
[13]
Saudades de ouvir o cantar do “galo do campo” de procurar o misterioso ninho do “curiango” o esconderijo da “andorinha” e do seu bando, caçar “codorna e perdiz” para fazer o rango.
[14]
Não havia sanitário, como na maioria das fazendas, o jeito era se esconder "lá embaixo", atrás do "Sempre Verde". Pular e brincar nas "barrocas" e ir na roça levar as "merendas" para papai e meus irmãos mais velhos. Caçar ninhos de "ciriemas" e brincar na "grama verde".
[15]
Na estrada do "Bonfim", lá do "Alto" já avistava a nossa aconchegante casinha... Passar na "pinguela" prá comer "mutamba" do outro lado da "grota". Lembro de ver os carros atolados na terra vermellha lá da "baxinha" e do nosso "carrinho de ferro de mão" pra buscar a "lenha" lá pra porta.
[16]
As "cancelas" ou "porteiras", os "colchetes" ou "tronqueiras"...O espinhento pé de "barriguda" com sua flor perfumosa...No lado esquerdo da casa, enormes brotos das "piteiras"...Prá fazer terços, usávamos as contas de "lágrimas de Nossa Senhora"!
[17]
No "terreiro" da frente, vários "pés de rosas" perfumavam o ambiente.. Nos cantos do "curral" e do "mangueiro", os pés de "jambos" todos os anos floresciam. Papai saía cedo pra roça. Mamãe, costurando, cuidava tão bem da gente! Quantos momentos felizes, meu Deus do Céu...
[...espaços íntimos, de choro e eterna saudade...fortes emoções!]
Lágrimas em abundância, éramos muito felizes e "já sabíamos"...
Seus nomes entraram para história de Bonfinópolis de Minas, papai com a denominação da Rua Lázaro Nunes da Silva e de mamãe com o nome da Instituição de Acolhimento da Comarca de Bonfinópolis de Minas “Casa Lar Maria de Lourdes Souza – Dona Lourdes” ambos no bairro Brasilinha...
[18]
No fim da tarde, bandos de "tico-ticos", "sanhaços" e "anús", procuravam se acomodarem na “touceira” de "bambú". À noite, silêncio total, a calmaria predominava, na certeza de que na alvorada, encontraríamos novamente o céu azul.
[19]
Lembro-me das "latas de banha" emprestadas e até das "coadas de café"... Do "mourão" de amarrar cavalos e o "cocho" de madeira prá colocar sal pro gado no pátio...
Das barulhentas mesas de "truco" na casa da "Zica e Zezé"... E das duas imensas "tabocas" nos dois cantos da casa pra colocar a antena do velho rádio “Campeão”.
[20]
O Terreiro varrido com vassouras de "ramos e palhas". Debaixo do pé de flor bouganville a "sempre lustrosa", era comum verem gatos preguiçosos dormindo. "Tarzan, Brasão e Cartucho" cães amigos, bravos, mas, todos "vira-latas"! Muitos "franguinhos" de molho e galinhas cheias de "pintinhos" no terreiro...
[21]
Comer queijo "fresco" ou ralado com rapadura, "paçoca" de amendoim, doce de leite com mamão, "coalhada" com açúcar, café doce com "requeijão. Ao redor da mesa, muita alegria, brincadeiras e travessuras.
[22]
O cavalinho “castanho” marchador e esquipador do meu irmão. A pontaria certeira do bodoque de Wanderley; o velho “burro” para carregar a carga e agüentar o “batidão”. Recordações marcantes que eu jamais as esquecerei.
[23]
No campo e nos "gerais", "murici" de todas espécies, "mangaba" suculenta e "pequizeiros" carregados. No canto da "dispensa", uma "tuia" cheia de arroz e "mantimentos", "coquinho xodó", as bananas "prata, maçã e são tumé".
[24]
Ferro à brasa, de passar roupas, banhos nas "grotas" ou na bacia! Leite cru no "curral" de manhã, com farinha ou com "mastruz". Porta-escovas de madeira na sala. Pés de "marmelada", de goiabas e "araçás", prá encher um balde! As vacas leiteiras, a "mansinha-mansinha" e a "mansinha-valente".
[25]
"Galocha" de borracha pra andar na chuva, e a "conga" azul de tecido. O pé de "castanha" dentro da horta, que todos acreditavam ser a famosa do "pará", lêdo engano! As moitas de "raiz capim", "erva-cidreira" os estaleiros e "latadas" de chuchu... O verde forte do pé de "imbé" no canto da casa, e nas grotas, cavar pra arrancar os pés de "gravatá".
[26]
O "açude" na grota do “capão”, feito no braço, com enxada e enxadão! Muitos dias de trabalho e suor do meu pai e dos meus irmãos! Depois de tudo pronto, quanta água represada, que satisfação! Mas durou pouco, muita pressão, rompeu-se, foi só uma ilusão...
[27]
Vilma, a mais velha, foi professora de quase todos os irmãos, casou-se com o vascaíno paracatuense Vasco Rabelo, matador dos mosquitos da Malária. Wilsa, a quarta da geração, adorava ler as revistas de fotonovelas, casou-se com o Manoel Adão, aquele que no seu serviço de eletricista, por vários anos "deu a luz". Expressões atribuídas a eles pelo nosso saudoso Frei Humberto Van Teijling, O.Carm.
[28]
Dindinha Valdete e Vanda, ambas, também foram professoras. Vera Lúcia, a “conserta tudo”, do seu lencinho na cabeça não abria mão. Valceni, a caçula, ficava irritada quando a chamávamos de "cinira, ipi, ipi, urra...”. Vilda, Rosinha, pernas cambotas, numa gangorra, certa vez quase perdeu a voz.
[29]
Valmir foi vaqueiro e hoje é um pedreiro gabaritado, morador da cidade de Arinos – MG, no Vale do Rio Urucuia e Grande Sertão Veredas.
Vilmar, também trabalhou em várias fazendas dos municípios de Paracatu e Bonfinópolis de Minas, hoje é um carpinteiro requisitado da progressista cidade de Unaí - MG.
Valtim, na década de 70 morou vários anos em Belo Horizonte, ex-funcionário das Lojas Americanas e das Casas Arnaldo, hoje evangélico convertido, morador da bela cidade de Anápolis – GO.
Delei, cuidou da nossa fazenda quando mudamos para a cidade até ela ser vendida em Abril de 1989. Ajudou a fazer muito asfalto pelo Brasil à fora, nos Estados de Minas Gerais, Goiás, Tocantins e Mato Grosso do Sul, hoje vive na próspera cidade de Americana – SP.
Tatau, desde muito novo, revelou-se um pintor autodidata, hoje trabalha com designer e telemarketing na bi-centenária cidade de Paracatu - MG.
Dindinha Dete e Padrim Antonio, curtem a vida tranqüila e a aposentadoria de ambos, no pequeno Sítio Sossego na região das Lajes, município de Riachinho – MG.
Delí, desde bem novo, gostava de escrever poemas, fazer discursos como os políticos que ouviam pelo rádio no programa “A Voz do Brasil”. Também imitava os radialistas Elí Corrêa e Barros de Alencar, da antiga rádio Record. Hoje, se considera o “Porta-Voz da Emoção Bonfinopolitana”...
[30]
Cantinho do meu mundo, berço querido!
Da mais singela e pura felicidade,
Casa grande, telhas cumbucas, 13 filhos reunidos!
Hoje, todos vivem e trabalham na cidade...
[02]
Nas lindas manhãs ensolaradas,
ouvia o canto do "joão de barro",
os "pássaros pretos" em revoadas,
junto aos "sabiás" cantavam ali do lado.
[03]
O "canavial", como repouso e camuflagens das "nhambus". As mangueiras, abrigo seguro das "maritacas", "jandaias e periquitos". Nos grandes e velhos pés de laranja, "juritis" de asas azuis, céu de nuvens brancas, como flocos de algodão, no azul do infinito.
[04]
Na sombra generosa do robusto "tamboril",
bezerros, cavalos, vacas e bois se descansavam, borboletas e “cigarras", "grilos" e "louva-deus" como nunca se viu, voos rasantes de "andorinhas" e "gaviões", alí se encontravam.
[05]
O "baruzeiro" à beira da estrada, "marmeladas" e o "capão" de mato verde. A "cagaiteira inclinada", o gigante pé de “tamarindo”, o velho e guerreiro "gonçalo" com suas galhas formando um quatro. O "jacarandá", o "pé de capitão", e o pé de copaíba, o "pau d'óleo" imponente. Os "sabiás", nas laranjeiras, os "tico-ticos" nos pés de "jenipapo".
[06]
O pequeno "paiol" de milho, coberto de palhas, o "curral" muito modesto, feito de varas, o grande "mangueiro" dos porcos se lamearem, a pastagem do gado, dividida em quatro partes.
[07]
Na nova lavoura, brotos de "japecanga" e um grande "mandiocal". Na roça de cima, "milho e feijão", "capim meloso" e o "provisório". Na de baixo, melancia, arroz e amendoim e um pequeno cafezal. Colheitas fartas, sem agrotóxicos, tudo bem natural!
[08]
Saudades de chupar cana "caiana" e pitomba.
Vigiar o arrozal das jandaias e pássaros pretos, chupar melancias de tantas variedades, cantarolar canções apaixonadas do Amilton Lelo e Amado Batista...
[09]
No campo, chupar murici e no cerrado, colher pequi. Juntar esterco de cavalo para preparar a horta. Espantávamos o olho gordo com a folha do Tipí. Levar as vasilhas pras meninas lavarem na grota...
[10]
Na época de mangas, tantas lembranças e momentos que recordamos por inteiro. O primo "Neno" lá de Brasília, vinha curtir suas férias com seus causos mirabolantes da Capital e sempre trazia consigo um
estilingue certeiro, muita farofa de "rolinhas", juritis e periquitos se faziam...
[11]
A reza do terço em família, todo dia, propagava a paz e a união! As novenas do Natal e da Campanha da Fraternidade, quanta alegria! Vizinhos de perto ou de longe, era grande a participação. Nos finais de semana, forró do "Voninho", do “Mangabinha” ou uma animada quadrilha...
[12]
Lembro-me das nossas diversas brincadeiras,
“pular cordas e maré, ir à fonte itororó e brincar na “gangorra”. Balançar nas galhas das mangueiras. Cuidar dos filhotes de “papagaios e verdadeiras”...E ensinar a assobiar o “periquitinho vassoura.”
[13]
Saudades de ouvir o cantar do “galo do campo” de procurar o misterioso ninho do “curiango” o esconderijo da “andorinha” e do seu bando, caçar “codorna e perdiz” para fazer o rango.
[14]
Não havia sanitário, como na maioria das fazendas, o jeito era se esconder "lá embaixo", atrás do "Sempre Verde". Pular e brincar nas "barrocas" e ir na roça levar as "merendas" para papai e meus irmãos mais velhos. Caçar ninhos de "ciriemas" e brincar na "grama verde".
[15]
Na estrada do "Bonfim", lá do "Alto" já avistava a nossa aconchegante casinha... Passar na "pinguela" prá comer "mutamba" do outro lado da "grota". Lembro de ver os carros atolados na terra vermellha lá da "baxinha" e do nosso "carrinho de ferro de mão" pra buscar a "lenha" lá pra porta.
[16]
As "cancelas" ou "porteiras", os "colchetes" ou "tronqueiras"...O espinhento pé de "barriguda" com sua flor perfumosa...No lado esquerdo da casa, enormes brotos das "piteiras"...Prá fazer terços, usávamos as contas de "lágrimas de Nossa Senhora"!
[17]
No "terreiro" da frente, vários "pés de rosas" perfumavam o ambiente.. Nos cantos do "curral" e do "mangueiro", os pés de "jambos" todos os anos floresciam. Papai saía cedo pra roça. Mamãe, costurando, cuidava tão bem da gente! Quantos momentos felizes, meu Deus do Céu...
[...espaços íntimos, de choro e eterna saudade...fortes emoções!]
Lágrimas em abundância, éramos muito felizes e "já sabíamos"...
Seus nomes entraram para história de Bonfinópolis de Minas, papai com a denominação da Rua Lázaro Nunes da Silva e de mamãe com o nome da Instituição de Acolhimento da Comarca de Bonfinópolis de Minas “Casa Lar Maria de Lourdes Souza – Dona Lourdes” ambos no bairro Brasilinha...
[18]
No fim da tarde, bandos de "tico-ticos", "sanhaços" e "anús", procuravam se acomodarem na “touceira” de "bambú". À noite, silêncio total, a calmaria predominava, na certeza de que na alvorada, encontraríamos novamente o céu azul.
[19]
Lembro-me das "latas de banha" emprestadas e até das "coadas de café"... Do "mourão" de amarrar cavalos e o "cocho" de madeira prá colocar sal pro gado no pátio...
Das barulhentas mesas de "truco" na casa da "Zica e Zezé"... E das duas imensas "tabocas" nos dois cantos da casa pra colocar a antena do velho rádio “Campeão”.
[20]
O Terreiro varrido com vassouras de "ramos e palhas". Debaixo do pé de flor bouganville a "sempre lustrosa", era comum verem gatos preguiçosos dormindo. "Tarzan, Brasão e Cartucho" cães amigos, bravos, mas, todos "vira-latas"! Muitos "franguinhos" de molho e galinhas cheias de "pintinhos" no terreiro...
[21]
Comer queijo "fresco" ou ralado com rapadura, "paçoca" de amendoim, doce de leite com mamão, "coalhada" com açúcar, café doce com "requeijão. Ao redor da mesa, muita alegria, brincadeiras e travessuras.
[22]
O cavalinho “castanho” marchador e esquipador do meu irmão. A pontaria certeira do bodoque de Wanderley; o velho “burro” para carregar a carga e agüentar o “batidão”. Recordações marcantes que eu jamais as esquecerei.
[23]
No campo e nos "gerais", "murici" de todas espécies, "mangaba" suculenta e "pequizeiros" carregados. No canto da "dispensa", uma "tuia" cheia de arroz e "mantimentos", "coquinho xodó", as bananas "prata, maçã e são tumé".
[24]
Ferro à brasa, de passar roupas, banhos nas "grotas" ou na bacia! Leite cru no "curral" de manhã, com farinha ou com "mastruz". Porta-escovas de madeira na sala. Pés de "marmelada", de goiabas e "araçás", prá encher um balde! As vacas leiteiras, a "mansinha-mansinha" e a "mansinha-valente".
[25]
"Galocha" de borracha pra andar na chuva, e a "conga" azul de tecido. O pé de "castanha" dentro da horta, que todos acreditavam ser a famosa do "pará", lêdo engano! As moitas de "raiz capim", "erva-cidreira" os estaleiros e "latadas" de chuchu... O verde forte do pé de "imbé" no canto da casa, e nas grotas, cavar pra arrancar os pés de "gravatá".
[26]
O "açude" na grota do “capão”, feito no braço, com enxada e enxadão! Muitos dias de trabalho e suor do meu pai e dos meus irmãos! Depois de tudo pronto, quanta água represada, que satisfação! Mas durou pouco, muita pressão, rompeu-se, foi só uma ilusão...
[27]
Vilma, a mais velha, foi professora de quase todos os irmãos, casou-se com o vascaíno paracatuense Vasco Rabelo, matador dos mosquitos da Malária. Wilsa, a quarta da geração, adorava ler as revistas de fotonovelas, casou-se com o Manoel Adão, aquele que no seu serviço de eletricista, por vários anos "deu a luz". Expressões atribuídas a eles pelo nosso saudoso Frei Humberto Van Teijling, O.Carm.
[28]
Dindinha Valdete e Vanda, ambas, também foram professoras. Vera Lúcia, a “conserta tudo”, do seu lencinho na cabeça não abria mão. Valceni, a caçula, ficava irritada quando a chamávamos de "cinira, ipi, ipi, urra...”. Vilda, Rosinha, pernas cambotas, numa gangorra, certa vez quase perdeu a voz.
[29]
Valmir foi vaqueiro e hoje é um pedreiro gabaritado, morador da cidade de Arinos – MG, no Vale do Rio Urucuia e Grande Sertão Veredas.
Vilmar, também trabalhou em várias fazendas dos municípios de Paracatu e Bonfinópolis de Minas, hoje é um carpinteiro requisitado da progressista cidade de Unaí - MG.
Valtim, na década de 70 morou vários anos em Belo Horizonte, ex-funcionário das Lojas Americanas e das Casas Arnaldo, hoje evangélico convertido, morador da bela cidade de Anápolis – GO.
Delei, cuidou da nossa fazenda quando mudamos para a cidade até ela ser vendida em Abril de 1989. Ajudou a fazer muito asfalto pelo Brasil à fora, nos Estados de Minas Gerais, Goiás, Tocantins e Mato Grosso do Sul, hoje vive na próspera cidade de Americana – SP.
Tatau, desde muito novo, revelou-se um pintor autodidata, hoje trabalha com designer e telemarketing na bi-centenária cidade de Paracatu - MG.
Dindinha Dete e Padrim Antonio, curtem a vida tranqüila e a aposentadoria de ambos, no pequeno Sítio Sossego na região das Lajes, município de Riachinho – MG.
Delí, desde bem novo, gostava de escrever poemas, fazer discursos como os políticos que ouviam pelo rádio no programa “A Voz do Brasil”. Também imitava os radialistas Elí Corrêa e Barros de Alencar, da antiga rádio Record. Hoje, se considera o “Porta-Voz da Emoção Bonfinopolitana”...
[30]
Saudade infinita da época de moagem de cana, levantava cedinho e ia prá casa do Sr. Nino, beber garapa de cana geladinha, buscar melado, comer batidas e puxas de mel... o carro de bois para buscar o milho, arroz e feijão lá das roças, as canas para moerem no engenho, tocado pela junta de bois carreiros “bordado e trigueiro”..., ô saudades também de quando saíamos a família inteira pra buscar mexerica Pocã e Laranja da Bahia lá na fazenda Cachoeira dos Pilões, do nosso primo Moacir...
[31]
Ainda, recordo das nossas vacas leiteiras, “Estrangeira, Andorinha e Roxinha”... O “rum, rum, rum” da Gia cantando à noite no "poção", assombrando a meninada...
Os piados sinistros da "mãe-da-lua", da "coan" e das corujas. Tudo, não passava de imaginação, de nossos medos que não podiam ser contidos.
[32]
A visão assustadora de minha irmã "Cení" com o "gato de asas", na verdade, era apenas um velho "corujão", que nem mais voava. O "Papagaio Louro" e tagarela lá no alto do telhado, que a todos imitavam, cantava "parabéns prá você", "fuscão preto" e "atirei o pau no gato."
[33]
Como me divertia nas Campanhas de Vacinação, que na escola realizavam, era muita gente reunida, os vizinhos, os compadres e as comadres. Ouvia choro dos meninos e sentia o cheiro forte do álcool das enfermeiras. Eu tinha muito medo de vacinar. Vilmar meu irmão, sempre desmaiava quando chegava a sua vez.
[34]
Nos fundos da casa, uma profunda "cisterna" que nunca secava,"sarilho" manual, água doce e cristalina, que a nossa sede saciava. Mais no fundo, o pé de "manga espada" e o "poleiro" das galinhas. Lá no pasto, o pé de "Jaca" que nunca dava, tinha também o pé da "manga roxinha.”
[35]
Lembro com clareza da artesanal "prensa" pra fazer "polvilho", e bem do lado, os enormes e deliciosos maracujás de mesa". O grande pé de abacate, inclinado pelo "tempo e o vento", toda criança conseguia escalá-lo, sem fazer nenhuma proeza.
[36]
Tempos de outrora, Valdemiro Gontijo trabalhando na Nuclebrás, órgão do Governo Federal, na sucursal de Belo Horizonte... Faustino do Nino e Derli Tavares, no Exército Brasileiro, serviram de recrutas. Edmundo de dona Rita, morando em Brasília, era sempre um "candango" itinerante.
[37]
Nos fundos do curral, um velho "engenho" puxado por bois, não lembro de vê-lo funcionando, mas brinquei muito com as suas ruínas! Também uma Engenhoca manual, força humana, funcionava com 4 homens ou até 2, "garapa" de cana fresquinha na hora, pra alegria das meninas...
[38]
Meu Deus, e o famoso"quarto de escola", como poderia eu esquecer? Escola rural, não tinha quase nada, mas bons amigos ali eu conquistei... Orgulhosamente, com minha irmã e professora Vanda, aprendi a ler e escrever. Paixões de adolescente e brincadeiras inocentes, de tudo vivenciei.
[39]
Escola Municipal Riacho da Raiz, no seu início mantida por meus pais, dentro deste quarto de escola. Os colegas inesquecíveis, Osmar, Juverci, Lourdes, Vicente, Noé, Dêelson, Ronilda, o corajoso Ronan e outros mais... Por fim em 1986 a escola fechou suas portas com o nome do meu avô: Dioguino Martins Rodrigues!
[40]
Brinquei com carrinhos de "lobeira", "boizinhos e vaquinhas" de mangas. Embrulhado numa coberta, eu subia na mesa e brincava de rezar missas... Dentro do "bifê" formava a dupla caipira com "Tatau", era o "Amado e Antonio" como dizia o Sr. Nino. Lembro-me de subir nos pés de "saputás", de chupar "ingá" lá no córrego. As "Mangabas", agridoces, os "Borlés" vermelhinhos, das deliciosas Gabirobas e as azedinhas "Cajamangas".
[41]
Era muita alegria receber uma carta dos familiares de longe! Aguardar sua chegada, no São João, Carnaval, Ano Novo e Natal! Quantas vezes vi o querido Frei Humberto chegar lá de Jeep prá rezar a Missa!
Realizar casamentos, batizados e confissões, bem natural!
[42]
A usina lá da "Içara" e o terço de Santa Luzia na SETOL. As idas na cidade pra assistir ao desfile de 07 de Setembro, e a procissão do Senhor Morto, na Sexta-feira da Paixão. Era uma rotina agradável que todo ano se repetia.
[43]
À noite estrelada, antes de jantar e dormir, mamãe, meus irmãos e eu, conversávamos sobre tudo, papai ouvia as notícias no rádio, através da "Voz do Brasil". Luzes de "lamparinas" à querosene, ainda não havia o "Luz para Todos"!
[44]
Lembro-me dos passeios na casa de dona Rita pra ouvir os mais novos sucessos do Amado Batista, Amilton Lelo, Milionário e José Rico na longa "Estrada da Vida". Dos "tacos" de rapadura, das "amoras" deliciosas na casa do Sr. Nino e dona Nina. De rezar no Cruzeiro e depois molhar a cruz no cemitério do misterioso "Mané de Couro."
[45]
Zélia, Zilda e Gilson de Nersi, vizinhos de longe, mas presentes... Assim como a Marlene de dona Julieta, Otaíria e sua irmã Zélia. Dona Rita Magra e Dalva. Baltazar e dona Maria Moreira lá na região do zoidágua. Jesus de Joaquim Tôco e seu irmão sanfoneiro Zé Miter, Adãozinho Moreira e Adãozinho Lourenço, e o"Diga," sanfoneiros da região da "barra". Zeca Moreira e dona Rosa "luquita". Melchior e Mário e a sua fazenda trilionária (pois para eles não existia valor financeiro capaz de pagá-la).
[46]
Não me esqueço do barulho das águas na Cachoeira da Fumaça nos grandes cânions formados desde a sua nascente até o encontro no ribeirão Conceição, este, já formado por esses três ribeirões, e por mais alguns quilômetros (km) percorre até a foz no Rio Urucuia, de lá até o Rio São Francisco, fazendo a integração Nacional de Minas Gerais ao Nordeste do Brasil, desaguando no Oceano Atlântico. Das escritas rupestres nos paredões do lajeado da Cachoeira do Letreiro ambas no ribeirão Santa Cruz...
Do córrego do Bastardo, Riacho da Raiz e Olhos D'Água. Dos mutirões e pagodes na casa do animado “Domingo de Firmo e Naíde” com sanfoneiros ou radiolas tocadas a pilhas”.
[47]
Nas noites de verão, sem geladeira, entre em cena a criatividade sertaneja..."travessa esmaltada" branca, cheia d'água no terreiro resfriava-se no sereno! Enquanto isso admirávamos o brilho da lua e o cintilar das estrelas, e um a um, todos nós, tomávamos um copo de água fresca!
[48]
Na porta de entrada principal, uma "grande pedra" era o "batente" como fosse um tapete pra limpar os pés... na sala, um "cabide" de madeira e uma "cantoneira" com o filtro de barro, um oratório de Nossa Senhora Aparecida e o quadro de São Jorge, o combatente. Na cozinha, "prateleira" de madeira e um "garfeiro" cheio de brilho.
[49]
"Sacas de Arroz" em casca e "café em cocos",
nas mãos calejadas, eram limpos no "pilão" ou no "monjolo". No cerrado, pegar "paina" para fazer travesseiro e "tinguí” para fazer sabão.
Essa poesia imita-se os "Lusíadas" de Camões pela extensão, mas é apenas o meu consolo.
[50]
Ah, quanta intimidade revelada!
Saudade de brincar com Oraci, Vicente e Tatau, de peão de boiadeiro! De admirar a chuva e sentir o cheiro da relva molhada, e ser a atração principal daquele saudoso lugarejo visto ser eu de toda a irmandade, o mais novo.
[51]
Tudo hoje não passa de uma infinita saudade! De um tempo inesquecível que não volta jamais...Papai e Mamãe, hoje já não os temos mais, com certeza, vivem com Deus, na eternidade.
[52]
Da grande casa, hoje restam apenas ruínas,
O belo e caudaloso córrego "Riacho da Raiz",
Da última vez que o vi, nem águas mais ele tinha! Como se fosse um desenho que se apagou, feito de giz.
[53]
Dos antigos moradores da região, hoje restam apenas a saudade: Zé Farias, Sr. Antonio Farias e dona Rita, dona Gesuína, Valdemar e Zefa, Zezé Mariz, Mauro do Chicão, Aparício e Sr. João Delfino, Ronilda, Joana e Pimenta, Dona Maria Víuva, Sr. Nino e dona Nina, Zezico e Nersi, Baio, Simeão e dona "Dona", Sr. Zé Pio, Melchior e Mário, Sr. Antuninho Biela, Sr. Alvino e dona Laudelina, Sr. José Martins e dona Madalena, Dona Teodora, dona Maria Gruna (a parteira que ajudou a minha mãe a dar à luz quando nasci), Sr. Manoel da SETOL, Salvador, Prêta, Heli Caetano, Sr. Omero e Maria Odete, Geraldão e Dêelson, Tonhe Gruna, Sr. Donato, Sr. Libório e dona Anália, Sr. Joaquim Tavares, Tio Eustáquio, Tia Maria, Ronan e Zé Hora... Cada um, ao seu modo, deixou marcada a sua história!
[54]
Ó meu Riacho da Raiz!
Riacho dos meus sonhos e devaneios...
Alí, onde por nove anos, vivi muito feliz!
Saudades eu tenho da Fazenda Riacho da Raiz!
[55]
E quando a saudade me aperta o peito,
de carro, a pé, sozinho ou de bicicleta,
não importa, eu sempre arrumo um jeito,
e prá lá, dirijo-me com muita pressa...
[56]
Nas minhas lembranças, faço uma viagem inesquecível, subo e desço suas ladeiras, passo por trilhos empoeirados, tomo banho nas "grotinhas" e mato minha sede nos seus "minadores". Subo nas árvores e descanço-me deitado às suas sombras.
[57]
Pra alguns, pode até parecer excesso essa minha melancolia. Mas, apenas quero deixar esta história com "H" maiúsculo registrada. E toda a minha saudade, meu sentimento de gratidão e alegria, dos 13 IRMÃOS felizes e de uma FAMÍLIA unida e muita amada.
[58]
Tantos sonhos inocentes de almas reluzentes,
a paz envolvente e saudades evidentes...
Simplicidades aparentes, ternura aconchegante, espiritualidades veementes, de Deus Criador, criaturas a ELE tementes...
NOTA DO AUTOR: :
Poderia ter dividido em partes esta poesia, mas preferi preservá-la em Capítulo Único, integralmente. Onde cada palavra é uma particularidade, de como realmente eu vivenciei e ajudei a construir, assim como as pessoas e lugares citados. Embora alguns não sendo moradores da Fazenda Riacho da Raiz fizeram parte da minha, ou melhor, das nossas vidas, e podem ou puderam dar testemunho da paz e harmonia que predominavam na nossa família e em toda aquela pacata e maravilhosa região.
Dedico especialmente aos meus 12 e queridos irmãos, e autodedicada a mim mesmo, são eles cronologicamente: Valmiro, Vilma, Vilmar, Walter, Valdete, Vanda Maria, Wilsa Glória, Wanderley, Vera Lúcia, Vilda Rosa, Valceni de Jesus, Vicente Carlos e Vanderlito do Divino.
In memorian, aos dois herois que nos criou, "Lázaro Nunes da Silva e "Maria de Lourdes Souza".
Dedico especialmente aos meus 12 e queridos irmãos, e autodedicada a mim mesmo, são eles cronologicamente: Valmiro, Vilma, Vilmar, Walter, Valdete, Vanda Maria, Wilsa Glória, Wanderley, Vera Lúcia, Vilda Rosa, Valceni de Jesus, Vicente Carlos e Vanderlito do Divino.
In memorian, aos dois herois que nos criou, "Lázaro Nunes da Silva e "Maria de Lourdes Souza".
Texto atualizado e gravado com a interpretação profissional de Mário Júlio do "Studio Digital H2A" de Patos de Minas - MG, e ofertado aos meus 12 irmãos na Ceia do Natal de 2012.
Bonfinópolis de Minas – MG, 25 de Dezembro de 2012.
Autor e poeta: Nunes de Souza