As mensagens escondidas de Mesalin de Kish

Metempsicose.

Chegou o Outono e a sua sofrível harmonia

Já as grimpas dos telhados não são frequentadas por bandos alegres de andorinhas ruidosas…

(Quem diria que Santo Tirso seria passeio de gaivotas?)

As sinceiras dos marachões da margem esquerda do Ave tomam aquele tom pérola celestial

Na margem direita estão pescadores acocorados entre as ramagens de uns amieiros

Mesalin de Kish paira na filáucia dos espíritos

Eu – e o sangue que me gira nas artérias – somos o centro do mundo

(E talvez o jardineiro que, nos degraus da escada de podar, anda a chapotar os álamos)

No exacto ponto em que se encontram duas linhas imaginárias:

Uma sai da Assunção, a oriente, e vai à procura da ocidental procela

A norte o Rio e a farragem de casas do Pinheirinho, a sul a eloquência do visa diamond

Entre mim e o rio, as obreias e as alfaias religiosas do colossal coristado

Entre as minhas costas e o visa espojam-se galinholas em lupercais gentílicas

O povo, descalço, vai a soutos de castanheiros e a touças de carvalhos, mas não abraça as árvores

Deixa-se seduzir por um foguete de lágrimas, um bombo e um trompão

O corpo da mulher solteira tem um contrapeso que se chama coração

Casada, tem apojadura e sarapinta-me o estilo

Não abraço figueiras com pavor aos sicofantas

ANTONIO JORGE
Enviado por ANTONIO JORGE em 12/10/2009
Reeditado em 14/10/2009
Código do texto: T1861863
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.