Abismo
Havia, pois, um outro jardim
Saltam aos olhos um certo delírio branco
Sobre o colorido das flores
São dois pássaros que se amam, talvez
Mas que se inquietam com o fremir das asas
Que faz o vento álgido no tempo do inverno.
Entre o vento irreal, desleal
E o campo gramado
O abismo do sonho
E uma escada,
Descendo para o ruir do vento
Que muda o som das notas prontas do silêncio.
Rente ao chão
O pó quase se desfazendo
Num sono profundo e inocente
Uma cadência de solidão
Toca uma nova canção
Infausta perseguição ritmada!
As maçãs sonolentas
Contam-me histórias do “Príncipe de Madeira”
Cascas de uma resistência forçada recriam o caule
Da árvore mais velha do jardim
Os passos contados pelo pátio do coração
Levam-me a desabar no sono, quem sabe, eterno.