D-A-T-I-L-O-G-R-A-F-A-N-D-O
Inverno
O frio imobilizava o instante do cenário
junto ao piano de teclado numérico
Estabelecer prioridades,
numa ordem crescente,
era o desafio original, inicial
Talvez a coação regelada do instante
pudesse falar a primeira linguagem
e traduzir os delíquios das idéias complicadas
Surgiam as primeiras palavras...
Vamos! Rápido! Força!
Verdadeiras alavancas dotadas de caracteres
tornavam impressa a história
no papiro amarelado
O ritmo cadenciado
(agora) do piano de letras
barulhava como uma aldrava,
anunciando a chegada do escritor
Escrevia-se sobre tudo...
O amor em demasiada fantasia,
no horizonte púrpuro do fim da tarde,
era o tema afilhado
Pura contradição!
Noite já se fazia há um bocado...
A aldrava que anunciava o poeta
estava coberta pelas barbas brancas desse tempo
A lareira já mitigava a crepitação
(Ir)resistindo à friagem de uma história inventada
Pois como escrever sobre um amor
no fastígio de um inverno?